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Mostrando postagens de 2012

O espaço da individualidade hoje

Muito se fala que a sociedade em que vivemos é individualista, que as pessoas só pensam em si mesmas e não se importam com o próximo. O indivíduo, por definição, “aquele que não se divide”, que possui uma dimensão própria e inconfundível com qualquer outro ser, deveria, com base nessa delimitação de significado, ter uma dimensão pessoal bem definida e isolada dos outros seres. Mas qual é o verdadeiro espaço da individualidade humana em um mundo que nos exige a todo momento que compartilhemos tudo o que se passa conosco seja por fotos, mensagens em redes sociais (que hoje mais se assemelham a diários abertos, bem diferentes dos antigos que eram secretos), comportamentos extrovertidos e isentos de timidez... Enfim, vivemos em um mundo dito individualista, mas no qual não há um espaço reservado para o indivíduo e sua singularidade. Tudo o que se passa com os indivíduos tem que ser imediatamente divulgado seja comentando no Twitter, Tmbler ou Facebook, postando as fotos dos lugares, pessoa

O preconceito no vocabulário

O preconceito não é algo novo e nem podemos conviver totalmente sem ele. Sempre estamos a rotular situações e pessoas com base em pressupostos que nos permitem identificar rapidamente, mas que ao mesmo nos afastam de um a experiência própria a respeito de um determinado tema. O preconceito se encontra em toda parte, e quando ele se apossa de certos setores como a nossa linguagem, ele passa a influenciar nossa forma de pensar e lidar com determinadas situações e, consequentemente, justifica uma criação preconceituosa de juízos de verdade e de valor por meio de termos corriqueiros, com ares de comentários espontâneos sobre um tema específico, não nos deixando perceber as visões pré-concebidas que fundamentam tais afirmações. Exemplos dessa contaminação da linguagem cotidiana pelo preconceito são os termos como os que se usam para dizer que alguém é muito esfomeado: “você parece que veio do Ceará”, dando a entender que as pessoas que habitam esse local são todas privadas de alimentos e se

Interagindo com o leitor

Quero agradecer aos meus leitores, tanto os do Brasil quanto o de outros países, gente que eu nem esperava que fosse se interessar pelos meus escritos. Quero agradecer principalmente aos leitores da Suécia, Estados Unidos, Alemanha e Rússia, que fora do país compõem o meu maior público. Fico muito honrado em perceber a recepção que meus escritos encontram nesses países. Para aumentar a interação entre nós, quero pedir que me mandem sugestões sobre temas que sejam do interesse de vocês, meus leitores, e que talvez ainda não tenham sido contemplados nos artigos que já foram postados. Conto com a colaboração de todos, para fazer deste espaço não só um lugar para eu postar aquilo que penso, mas também para dialogarmos sobre temas relevantes, polêmicos ou que simplesmente despertam a nossa criticidade. Grande abraço a todos!!!

Por que os atos bárbaros nos chocam tanto?

É só ligarmos o televisor em qualquer canal e sempre nos deparamos com o mesmo tipo de cena: a maior parte do noticiário é composta por notícias negativas e são exploradas de forma exaustiva casos em que crimes foram cometidos com extrema crueldade. E não podemos reclamar só da ênfase dada pelos noticiários a esse tipo de notícia, pois se elas veiculam com mais frequência certamente é porque atraem mais a atenção do telespectador do que outras menos graves ou contundentes. Ao mesmo tempo em que chocam, esses crimes causam um grande fascínio sobre o público em geral, uma espécie de aberração que, apesar de tudo, parece tão fascinantemente humano que nos levam a questionar até que ponto nós também não estamos sujeitos a esse mesmo tipo de comportamento. Talvez o que mais choque nesses casos é perceber que eles foram cometidos por gente comum, que poderia ser algum vizinho nosso, um parente, um companheiro, um filho, um pai ou nós mesmos. Nada de substancial parece nos separar dos crimi

Sobre os “coitadinhos”

De uns tempos pra cá tenho procurado tomar muito cuidado com os chamados coitadinhos. Quem já leu o filósofo Nietzsche deve ter percebido como ele trata brilhantemente desse tema em alguns de seus textos. Sua crítica, que no começo nos soa um tanto indigesta e mal vinda, depois de algum tempo e de algumas considerações mais aprofundadas, nos fazem perceber o quanto nos iludimos e nos desviamos daquilo que acreditamos estarmos realmente fazendo. No que se refere aos coitadinhos, muitas vezes tentando ajudar e sermos caridosos, prestativos, humanos, não nos damos conta que, ao nos acharmos superiores, mais bem posicionados social e intelectualmente que eles, acabamos por dar-lhes a entrada que os mesmos precisam para se instalarem em nossas vidas e se tornarem os nossos senhores e comandantes. Isso mesmo, eu disse que eles é que passam a nos comandar. Veja bem: imagine aquela pessoa que te pede ajuda e te diz que você pode ajudá-lo porque você é mais competente, mais inteligente, mais is

Felicidade: um esboço

Observando-se a contradição que parece existir quando se pensa em uma vida feliz e realizada, a saber, a vontade de se acessar um estágio de plenitude, realização e tranquilidade e, ao mesmo tempo, perceber o quanto nos entediamos rapidamente quando atingimos algo que desejávamos ou a rapidez com a qual substituímos um objetivo alcançado por outro ainda por atingir. Alcançar o meio-termo não é fácil e muitas vezes acabamos nem mesmo aproveitando as conquistas obtidas, perdendo assim a capacidade de nos alegrar com os nossos próprios êxitos e vivendo sempre em busca daquilo que não possuímos, desperdiçando o que temos nas mãos em virtude do que sempre está por vir e que talvez nunca chegue. Talvez, pensando nas premissas dadas, possamos concluir, percebendo que a vida é um constante processo e que sempre teremos mais e mais atividades a realizar, metas a perseguir, até o fim de nossos dias, que a felicidade seria ter a impressão de que, apesar dos percalços, estamos seguindo o “nosso” c

Nossa suposta liberdade de expressão

Vivemos em um país que se orgulha de ser multicultural, multirracial, multirreligioso e que, portanto, propicia uma conivência pacífica e harmoniosa entre os mais variados grupos, favorecendo assim a tolerância e a liberdade de expressão. Mas não é preciso ir muito longe para nos darmos conta de que essa suposta liberdade não passa de uma fachada muito superficial e mal disfarçada. A liberdade de expressão só é bem vista e tolerada pacificamente enquanto não se desvia demais das visões predominantes em nossa sociedade. Aquilo que o nosso senso comum já tem como algo correto é assimilado e repetido sem nenhuma tentativa de refutação, mas aquelas opiniões que escapam do pensamento corrente são rechaçadas com escárnio, arrogância e por vezes até mesmo com violência pelos grupos predominantes. Se alguém demonstra publicamente que é cristão, dificilmente achará quem lhe chame a atenção por sua postura ou que tome providências para impedir que sua atitude. Porém, se alguém tenta publicamen

O amor que mata

Em tempos em que a todo momento aparecem novas notícias de pessoas que ferem e muitas vezes acabam por matar seus ex-companheiros, principalmente homens que matam suas ex-mulheres e namoradas, alguns questionamentos começam a martelar em nossas mentes: Esse comportamento pode ser considerado mesmo uma consequência do amor? O que leva alguém a cometer um ato deste porte simplesmente por uma ruptura num laço afetivo? A quebra de um vínculo afetivo justifica atitudes deste tipo? O que estaria por trás deste tipo de atitude? Em primeiro lugar, percebemos claramente que existe em nossa sociedade uma ideia distorcida de que o amor é ou doação total e irrestrita, ou achar alguém que te complete e te traga tudo aquilo que falte na sua vida. Aí mora a raiz de todos os problemas, pois quando se considera que amar é se doar totalmente e sem restrições, acaba-se por ceder tudo ao outro e desculpar todo o tipo de deslize e agressão por ele realizada. Assim como a visão de que a pessoa amada é aque

Relacionamentos: jogos de prazer e jogos de poder

Tudo sempre começa muito bem. São as trocas de carícias, elogios e gentilezas; são os passeios de mãos dadas e as juras de amor eterno e fidelidade até que a morte os separe e tudo o mais. Todo mundo já passou por essas experiências ou, pelo menos, já as presenciou alguma vez a vida. A maioria dos relacionamentos que estão começando possui esta base comum. Porém, logo alguém certamente há de ressaltar que isto é típico do começo, e que rapidamente este tipo de comportamento dará lugar a um outro, também muito usual entre os casais, de transformarem a própria vida e da do outro em um verdadeiro inferno. As boas atitudes cedem a vez à insensibilidade e ao desrespeito mútuo. Tudo que havia de bonito parece ruir e escoar aos poucos para fora da relação. E o interessante é que os que isso presenciam já esperam por este desfecho, ou seja, a ideia corrente sobre os relacionamentos é que eles são uma coisa bonita, no entanto fadados a um fim deprimente. Uma espécie de tragédia anunciada. É di

Vivendo de passado

É interessante perceber como boa parte das pessoas ao sentirem-se oprimidas ou receosas quanto ao presente ou ao futuro sempre acabam por se refugiar no passado. O futuro é incerto, o presente muitas vezes é desfavorável, mas o passado já aconteceu, não pode mais voltar, e quando ele não nos traz boas recordações pode facilmente ser moldado consciente ou inconscientemente para se adequar às nossas expectativas e nos parecer melhor do que foi realmente. Refugiar-se no passado oferece segurança e consolo para aqueles que têm medo de encarar a vida e seus percalços, pois no passado encontram uma zona de conforto, onde os acontecimentos desagradáveis podem ser repensados e melhorados de forma a parecer que não foram tão ruins assim, que serviram de aprendizado, que de alguma forma se justificam e que o passado foi bem melhor do que os dias atuais ou mais sólido do que as perspectivas voláteis do futuro. Com base nessa forma de pensar passam a exaltar os antigos amores, o comportamento do