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Mostrando postagens de junho, 2017

Sobre mitos e super-heróis

Ser alguém comum nos incomoda imensamente. Sentimos necessidade de nos sentirmos especiais e gostaríamos que os outros assim também nos vissem. Nos diluir na multidão parece ser sinônimo de aniquilação da nossa individualidade. Um duro golpe no nosso ego sempre oscilante e carente de autoafirmação. Esta talvez seja uma das explicações para o sucesso das histórias de super-heróis desde a antiguidade. Assim como um jovem grego qualquer deveria sonhar com a possibilidade de acordar um belo dia e descobrir-se filho de um deus e que todas as suas angústias perante o mundo e sua falta de adequação ao que o cercava se devia justamente a sua estirpe elevada, sua meia-parte divina e, portanto, superior ao resto dos reles mortais dos quais ele se envergonhava de certa forma, mas que a partir de então seria motivo de inveja alheia e de admiração de todos aqueles que antes o olhavam com ar de repreensão, também os jovens atuais parecem sonhar com o dia em que se perceberão superiores e de algu

Tédio versus Admiração

A raiz do tédio é o enfado. Começa a entediar-se aquele para quem a vida se tornou óbvia, sem brilho e nem mistérios. Num mundo com tantas explicações e facilidades isso parece cada vez mais fácil de acontecer, as pessoas perdem o interesse por tudo com grande rapidez. A vida, as coisas, os relacionamentos, tudo se assemelha a um chiclete que em pouco tempo perde o açúcar e nos deixa com a sensação de estar mastigando uma borracha sem gosto para a qual logo procuramos um lugar para descartar. A vida cada vez mais restrita e mesquinha favorece demais este sentimento tão prejudicial ao nosso desenvolvimento pessoal, social e mesmo cognitivo. Pessoal porque ao reduzir o mundo a um conjunto fechado de explicações e possibilidades não nos esforçamos para tornar a vida algo mais do que aquilo que ela nos apresenta, a transcender o que nos é dado e permanecemos na mesmice. Depois culpamos a existência pela nossa falta de iniciativa. Social porque impede que invistamos nas relações de mane

Miséria humana e a crueldade naturalizada

Vivemos em uma constante sensação de prejuízo. Sempre achamos que estamos perdendo de alguma forma e que nos encontramos numa constante luta para não sermos os derrotados. Viver parece uma constante disputa entre um bando de pessoas que estão todas no fio da navalha, umas competindo com as outras num estado de “guerra de todos contra todos” para se manterem de pé, para garantirem o mínimo para a sobrevivência e um pouco de conforto, que não estão disponíveis a todos. A miséria humana em tal cena nos coloca frente a frente com um cenário lastimável: todos perdendo e ao mesmo tempo se esforçando para estar numa situação menos degradante que a dos outros. E para isso, cada um deixa de lado o sentimento de compaixão e alteridade para fazer valer o seu próprio interesse em detrimento do dos demais, na mais firme convicção de que os outros também estão agindo desta forma, cada qual não hesitando em prejudicar o outro para não ser por ele prejudicado. Um festival de pequenas agressões q