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Mostrando postagens de 2011

O que querem os alunos da USP?

Semana passada presenciamos um fato bastante curioso: Um grupo de estudantes da USP entrou em confronto com a polícia militar nos arredores da faculdade e depois tomaram a reitoria em sinal de protesto. Entretanto, os motivos dessa agitação toda e o mérito da atitude em questão não foram tomados como objeto de debate em nenhuma emissora que eu me recorde. Quais foram os verdadeiros motivos que levaram a toda essa confusão? Ao que parece, e pelo menos até o momento não foi divulgado nem pelas emissoras de TV e nem pelos próprios estudantes argumentos melhores que estes, a confusão se deu porque três estudantes do campus em questão foram abordados pelos policiais militares e foi constatado que os mesmos portavam maconha. Autuados, seriam levados à delegacia para assinarem um termo relatando o fato e seriam liberados. Os colegas, não querendo que esse procedimento fosse realizado, enfrentaram a polícia e iniciou-se a confusão. Depois do enfrentamento, alguns estudantes tomaram a reitoria

A medida do respeito

É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem que respeitam os outros na medida em que esses outros também as respeitam. Isso dá a elas uma noção de reciprocidade, de que o outro deve ser responsável e se conscientizar de que para ser respeitado ele deve primeiro se mostrar digno de receber esse respeito. Alguns até falam em alto e bom som: “quem não se dá ao respeito não merece ser respeitado”. Contudo, essa mentalidade não tarda a apresentar complicações. Primeiro, por estarmos sempre esperando que o outro nos demonstre motivos para que possamos dedicar-lhe algum respeito; caso contrário, não o respeitamos. Se exigimos do outro um pré-requisito além do fato dele ser um ser humano assim como nós, que provavelmente deseja ser respeitado na mesma medida em que nós desejamos e também espera de nós alguma atitude inicial considerada digna de respeito, acabamos por criar uma atitude defensiva e restritiva, que no fundo tende mais a afastar o convívio pacífico do que realmente ajudar a propor

Sobre amores e jardins

Costumo comparar a arte de amar e se cuidar dos amores como sendo da mesma espécie dos cuidados que se deve ter ao cuidar de um jardim e das plantas em geral. Uma arte que pede uma sutileza que infelizmente poucos possuem, e, quando a possuem, facilmente a deixam escapar por entre os dedos. O amor, tal qual um jardim, tem que ser cuidado constantemente. Algumas situações pedem um cuidado maior do que outras, assim como determinadas plantas são mais sensíveis do que as demais. Qualquer imprevisto ou choque brusco pode botar uma planta a perder, do mesmo modo que um amor pode ser abalado e perecer por qualquer dano, descuido ou intempéries diversas. Dar a cada planta aquilo que ela necessita e no momento em que necessita só pode ser tarefa para aquele que está em constante contato com ela, que a percebe, intui suas vontades, reconhece suas mais variadas nuances e no tempo certo aplica o remédio, coloca-lhe o adubo, molha suas raízes e folhas. Da mesma maneira, aquele que consegue mant

A prostituição nossa de cada dia

É muito comum ouvirmos comentários sobre como a vida das prostitutas deve ser penosa e vazia. E não é para menos: alugar o corpo e ficar a mercê do outro por um determinado tempo, ceder às vontades dessa pessoa e se colocar na condição de objeto. Algo realmente muito degradante. Mesmo pensando que muitas recebem um alto valor por seus serviços, isso não parece desfazer totalmente a sensação de que essa prática configura algo indesejável e aviltante. Porém, observando melhor essa condição que a maioria considera humilhante também poderíamos formular a seguinte pergunta: não é isso que também nós, cidadão comuns fazemos todos os dias ao sair de casa rumo aos nossos empregos? Rotina estressante, submissão a uma série de regras que não escolhemos e às quais temos que nos curvar, uma relação custo-benefício na qual sempre temos a impressão de que estamos perdendo... Também colocamos nossos corpos à disposição de um patrão ou uma empresa por um determinado tempo todos os dias, e somos pag

Cuidado: a morte ronda a tua escola

Depois do fato ocorrido na escola do ABC Paulista, onde um aluno de dez anos atirou na professora e depois se suicidou, creio que seja a hora de pensarmos mais um pouco sobre os rumos da educação no Brasil. Esse caso pode ter sido uma fatalidade, mas está longe de ser um fato isolado para muitos professores de todo Brasil. É comum ouvir críticas ao modelo de educação aplicado no Brasil, mas pouco se fala do profissional acuado dentro da sala de aula, sem nenhum direito, com excesso de cobranças, mal remunerado e que ainda por cima carrega o fardo de “preparar o futuro do país”. Os nossos políticos ganhando mais de vinte mil reais por mês não conseguem preparar meia dúzia de leis e ainda acham que alguém ganhando pouco mais que um salário mínimo tem condições de dar conta de preparar as futuras gerações. Muitos secretários da educação dizem que o problema não é só o salário (o deles com certeza não é mesmo), mas há algum tempo atrás um deputado disse que nenhum cidadão comum consegue

Os novos meios de entorpecimento da mente

A preocupação com o aumento dos casos de alcoolismo e dependência química tem aumentado muito e tem sido bastante divulgado ultimamente. E não é para menos, pois cada vez mais casos vêm aparecendo e cada vez com pessoas mais e mais jovens. O vício não escolhe faixa etária, classe social ou qualquer outro tipo de distinção entre as pessoas. E se essa preocupação é legítima, outra não menos importante, embora menos divulgada ou percebida, também se alastra pela nossa sociedade. É o vício em toda a parafernália eletroeletrônica que já tomou conta do nosso dia-a-dia. Obviamente devemos ressaltar as grandes vantagens que nos trouxeram a televisão, o telefone celular e a Internet, isso é indiscutível. Mas também não podemos deixar de lado o quanto nos tornamos dependentes destes meios e o quanto sua falta, mesmo que por pouco tempo nos causa angústia e pavor da mesma forma que a falta de um entorpecente qualquer gera em um viciado. Somos tomados por uma espécie de síndrome da abstinência. M

Agradecimento

Obrigado a todos os meus amigos e leitores pela ultrapassagem da marca de mil acessos no meu blog "Considerações Cotidianas", quero dizer que estou muito feliz e agradecido. Espero continuar podendo proporcionar a todos uma leitura agradável e temas relevantes para se refletir. Valeu!!!

A falácia da valorização da educação

Acho que devo começar esclarecendo aos que desconhecem o sentido da palavra falácia. Falácia, segundo a lógica, é um tipo de raciocínio que induz ao erro, faz parecer verdadeiro aquilo que não é. No que tange a educação então, podemos percebê-la muitas vezes a povoar os discursos desde ministros, secretários de educação e até mesmo dos próprios professores e sociedade em geral. Quero me deter, porém, apenas nos últimos acontecimentos que me chamaram a atenção. Reportagens em vários telejornais e entrevistas com especialistas A, B e C sobre como melhorar a educação no país e etc. tentando demonstrar o óbvio, a coisa vai de mal a pior e a tendência não é das melhores: profissionais abandonando a carreira do magistério, poucas procura pelos cursos de licenciatura, salários baixos, condições de trabalho precárias e perigosas e por aí vai... Alguns esboços no sentido de reverter essa situação, ainda que muito tímidas, estão começando a surgir, porém, nota-se, para um bom entendedor, que a

Entre o instinto e o projeto

Os tempos atuais nos trouxeram muitas vantagens e liberdades, possibilidades que até a algum tempo atrás eram inimagináveis. Porém, como tudo na vida costuma ter o seu lado oposto, também nos deparamos com algumas questões que ainda continuam indissolúveis. Uma delas está no que se refere aos relacionamentos, onde variadas possibilidades de sexo fácil e sem compromisso se nos apresentam sem que, com isso, se fique taxado pela sociedade com um rótulo negativo. E não constituir uma família não é mais um tabu, nada que manche a reputação de alguém ou o deixe numa situação vexatória. Chegamos ao ponto de se chegar a dizer que é besteira o casamento ou qualquer outro tipo de envolvimento mais sério com alguma pessoa, pois escolher uma significa renunciar a todas as outras, e o estímulo ao qual estamos constantemente submetidos é o de aproveitar tudo o que a vida tem para oferecer. Nesse sentido, renunciar significaria perder, deixar de tirar proveito daquilo que a vida tem de bom. Nesse p

Sobre pipas e videogames

Venho percebendo nos últimos anos uma diminuição gradual do número de pipas no céu durante os períodos de férias escolares. Para quem anda de moto essa notícia não tem nada de ruim, pois o cerol das mesmas pode, e provoca realmente, acidentes graves e que podem acabar em morte. Mas, aquilo que poderia ser visto como algo positivo também pode estar sendo um indicativo de outros fatores culturais bastante relevantes e que apresentam, como tudo na vida, certa quantia de aspectos negativos. O primeiro deles é que o abandono da brincadeira com as pipas pode estar demonstrando uma perda cultural, já que ela se tornou uma espécie de “tradição” entre os estudantes em férias. Virou quase que um sinônimo de período de férias. Seu abandono, ou mesmo a diminuição de sua prática pode representar em uma perda no sentido em que, simbolicamente, se trata de uma brincadeira que pode ser um fator de integração e interação social e também, quando trabalhada adequadamente, promove uma série de efeitos de

Por que é tão difícil confiar?

A questão da confiança no outro é altamente complexa e delicada. Ainda assim, é algo de extrema necessidade para que se possa pensar em uma sociedade mais colaborativa e pacífica. Mas como podemos confiar em alguém, se esse confiar significa de alguma forma estar vulnerável, permitir que o outro tenha sobre nós algum poder potencialmente prejudicial? A cabeça do outro é um ambiente insondável para nós, onde só temos acesso através daquilo que ele próprio nos demonstra, algo que pode facilmente ser manipulado por alguém inescrupuloso a seu favor e contra os nossos interesses, fazendo-nos crer que são boas as intenções de alguém que só deseja nos prejudicar. Outro aspecto a ser considerado é o de que nós mesmos, sabendo das nossas limitações e tendências egoístas, projetamos essas tendências no outro e passamos a desconfiar que, como nós talvez nos sentíssemos tentados a trair a confiança alheia em determinado aspecto, provavelmente ele poderá adotar essa mesma postura em relação a nós

O amor ao outro e a falta de amor próprio

É muito comum ouvirmos as pessoas que buscam um relacionamento amoroso dizer que procuram “alguém que as façam felizes”, a sua “outra metade”, “sua alma gêmea” ou algo assim. Isso tudo supõe uma incompletude por parte de quem busca, pois quem quer sua outra metade é porque se sente somente “meio” e não algo inteiro, assim como quem busca alguém que a faça feliz indiretamente diz que por si só não consegue ser feliz, não consegue dar felicidade a si mesma. A “alma gêmea” é um pouco ainda mais complexa, porque supõe que exista alguém que seja uma parte de nós andando por aí, e que quando a encontrarmos seremos plenos em todos os sentidos, visto que essa pessoa nos compreenderá e nos satisfará completamente, pois sendo parte de nós, irá nos compreender tanto quanto nós mesmos, ou até melhor, e não nos decepcionará de forma alguma. Porém, alguém que não consegue dar a si mesmo todo tipo de satisfação ou felicidade, dificilmente encontrará outro que o faça. E fazer do outro o responsável p

O paradoxo do tempo livre

O tempo todo somos bombardeados pelas propagandas que nos oferecem produtos que prometem facilitar a nossa vida, economizar tempo nas tarefas diárias e nos proporcionar mais tempo livre. De fato, diversos deles realmente encurtam em muito o tempo que gastaríamos nas mais variadas atividades cotidianas que realizamos. Mas então o tempo livre que nos sobra, empregamos em quê? Por mais que tenhamos tempo disponível, nunca encontramos o suficiente para fazer tudo aquilo que gostaríamos. O tempo vem se encurtando, como diriam alguns? Creio que não, prefiro acreditar que quanto mais tempo livre temos, mais o utilizamos em atividades que o consomem e fazem com que ele não seja mais “livre”. Temos atualmente uma verdadeira compulsão por “ocupar o tempo livre”, fazer desse tempo algo produtivo, espaço de lazer, de trabalho, de especialização e muitas outras coisas. Com isso, o tempo que era livre se torna um tempo de trabalho, de ocupação da mente e do corpo em algum tipo de atividade que o t

Por que o diferente incomoda?

Vivemos em um mundo globalizado, nitidamente multicultural, multifacetado, onde diversas perspectivas e visões de mundo interagem o tempo todo. Convivemos o tempo todo com pessoas que possuem gostos, preferências, ideias, visões de mundo muito diferentes das nossas e muitas vezes até batemos no peito para enfatizar a “beleza” dessa diferença entre as pessoas. Mas será que esse discurso de exaltação da diferença é mesmo genuíno? A diferença é para nós o tempero que deixa a vida mais saborosa ou aquilo que justamente amarga as nossas bocas e nos tira o bom humor? Quando se pensa nas intermináveis guerras de torcida, acusações entre as igrejas e seus membros sobre qual seria a “mais verdadeira”, a que não “serve ao inimigo”, e outras alegações afins, nos partidos políticos que não se entendem e elevam suas divergências para além do bem da população pela qual deveriam zelar, além de outros tipos de preconceitos quanto ao gosto musical, estilo de se vestir, classe social, cor de pele, orie

A gaiola do gênero

Afinal, qual é a verdadeira diferença entre o homem e a mulher? Fora alguns detalhes anatômicos, fica difícil determinar algumas diferença reais, que não tenha sido fruto de uma construção social. O homem é o sexo forte e a mulher o frágil? A mulher age baseada na emoção e o homem na razão? Homem não chora? Será que esses conceitos não nos foram incutidos por uma pressão discursiva milenar, oriunda de uma visão determinada e reducionista do ser humano em vez de observações imparciais e rigorosas acerca do verdadeiro comportamento desses dois representantes da raça humana? Não precisamos ir muito longe para perceber que a resposta está bastante clara: não sabemos muito sobre nossas reais diferenças, o que sabemos foi o que nos enfiaram na cabeça através dos mais variados meios (televisão, família, cultura, religião, etc...) A noção de sexo forte ou frágil é bastante precária, pois se procuramos nos informar sobre o sentido da palavra força, ela indica a capacidade de mobilizar algo ou

Homofobia e o velho discurso do respeito

Nos últimos tempos tem-se acirrado as discussões a respeito de leis que transformam a homofobia em crime, e uma iniciativa anda pelo congresso gerando polêmica sobre a divulgação e utilização pelos professores de Ensino Médio de um kit anti-homofobia. Mesmo antes de se saber realmente o verdadeiro conteúdo do tal kit, muitos já levantam a bandeira dos “bons costumes”, e até mesmo do “direito do heterossexual”, divulgado aos brados pelo deputado Jair Bolsonaro e apoiado por boa parte dos hipócritas conservadores tanto dentro quanto fora do congresso. Parece ridículo dentro de um Estado laico como se diz que é o nosso, e ainda por cima democrático, onde determinados grupos sociais não tem vez e nem voz, ficando à mercê de grupos organizados e sabidamente retrógrados, representados pelas bancadas ligadas a igrejas das mais variadas denominações (estado laico?), ex-militares que ainda exaltam os anos da ditadura (democracia?), e que ainda fazem discursos pretensamente respeitosos para com

Deus preso na relação de causa e efeito

É impressionante como ainda hoje presenciamos constantemente um tipo de raciocínio sobre a tal “justiça divina” e a forma como Deus costuma reagir quando alguém ousa afrontá-Lo. Desde velhos exemplos, como o do navio Titanic ou de John Lennon até outros mais recentes, mas com um roteiro muito parecido, impressiona como as pessoas se comprazem em contar essas histórias, declamá-las no rádio, enviá-las pela Internet, informando assim aos desavisados que “com Deus não se brinca”. Percebe-se aqui como os indivíduos possuem uma dificuldade em aceitar qualquer ponto de vista discrepante daquilo já tido como parte integrante de suas convicções e ponto fundamental de suas existências. Pois diante de qualquer ameaça àquilo que se possui como fundamental para o seu discurso existencial, a reação é rechaçar prontamente e, para dar um ar ainda mais ameaçador para os que atentam contra essas convicções, projeta-se o sentimento de vingança e intimidação não aos meios que eles próprios empregarão pa