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Mostrando postagens de 2018

Disputa presidencial: uma tragédia anunciada

A atual disputa presidencial denuncia o quanto somos parciais e mal formados. Prezamos certas características e desprezamos outras, e nos espelhamos em quem parece que compartilha dessas mesmas aspirações. E quando vamos para o campo político, que encaramos como um embate entre torcidas rivais, isso chega a patamares estratosféricos. Comecemos pelos candidatos com maior intenção de votos, ambos respondendo criminalmente na condição de réus. Os dois já condenados e aguardando um parecer definitivo após recorrerem das decisões judiciais. Ainda assim possuem seguidores fiéis que os apontam como mártires da moralidade e da preocupação com o bem comum. Cada ato deles é recebido como algo vindo de uma esfera sobrenatural e que não comporta nenhum tipo de contradição, sob pena de se desqualificar a pessoa que critica sob os mais variados adjetivos pejorativos. São seres além da compreensão dos humanos comuns e só aqueles que os seguem sabem verdadeiramente o verdadeiro teor de suas máxim

O orgulho da burrice

A maioria da população possui um conhecimento limitado a respeito das coisas. Qualquer um concorda com isso. No entanto, ninguém concorda que esteja inserido dentro desta maioria. Podemos comparar esta situação com na leitura do Mito da Caverna, de Platão, que sempre lemos na crença de que somos como o prisioneiro liberto e esclarecido, e nunca como aquele que permanece na escuridão da ignorância, rejeitando quem verdadeiramente vem nos oferecer um caminho para sair da caverna das ilusões. Descartes, sabiamente disse que “o bom senso é a coisa mais bem distribuída de todas. Todos acham que a possuem em quantidade suficiente e ninguém acha que precisa obter mais”. Certamente ele deve ter dito isto com a intenção de debochar da nossa suposição de estarmos certos em tudo o que fazemos, pois dificilmente alguém acha que precise ter mais noção das coisas do que já tem. Todos querem mais dinheiro, conhecimento, reconhecimento, tudo. Menos ter mais bom senso. Este nos parece estar sempre

Os abutres e o câncer

Os abutres estão sempre prontos esperando o animal agonizante não mais oferecer condições de reação para que possam começar a devorá-lo. Isto é válido na natureza como também nas questões políticas e sociais. A diferença é que na sociedade existem muitas espécies de abutres, cada qual com o seu modo de agir e suas táticas particulares para se aproveitar do animal moribundo. Todo momento de crise evidencia a ascensão de um ou outro grupo, mais simpático a cada tipo de desgraça ou às suas causas, oferecendo alguma solução milagrosa para os problemas em troca de apoio da população. Para arrebanhar o apoio popular é necessário criar um inimigo comum, ou pelo menos apontar um responsável pela desgraça que ali se instalou. Assim como na velha história do “bode expiatório”, na antiguidade, oferece-se a saída fácil de que aquele ser específico, ao ser imolado, carregará consigo todos os males e devolverá a paz e a tranquilidade ao grupo. Rodando o mundo vemos os imigrantes, o grupo X ou Y

Democracia é dar voz ao outro, portanto não me agrada

Não somos fãs da democracia. Aliás, nem a conhecemos o suficiente para dela fazermos uma análise adequada e dizermos o quanto ela nos agrada ou não. Conhecemos apenas uma pequena parcela de suas atribuições, que se pauta na resolução de problemas através da votação para constatar qual é a vontade da maioria. Democracia é mais do que isso, ela é uma forma ampla de ver e viver a vida em conjunto, promovendo ampla participação e a troca construtiva entre as mais diversas vertentes e opiniões divergentes. Nossa sociedade não abre espaço de participação adequada para esse tipo de participação, mas vários setores e segmentos se apressam em dizer que essa forma de gerenciamento e condução da vida conjunta não funciona e que é preferível um poder centralizador que mantenha a ordem do que o debate exaustivo e que culmine em demasiado atendimento a interesses de outras vertentes que não as suas. Não possuímos nenhuma instituição genuinamente democrática. Família, escola, empresas, igreja

Narcisos Modernos

Somos obcecados pelo nosso próprio reflexo. Adoramos nos ver, nos admirar, principalmente através dos olhos alheios. O ser humano é o seu próprio assunto favorito e as redes sociais ajudam a levar isso a um extremo até então impensável. Se antes só as figuras mais proeminentes conseguiam algum tipo de destaque perante o público, hoje em dia qualquer um pode ter os seus quinze minutos de fama se fizer algo relevante no momento oportuno. Seguindo esse raciocínio, a grande massa se acotovela postando selfies de tudo o que faz e come, dos lugares onde vai e das ideias das quais compartilha, tudo na tentativa de dizer algo de si e de atrair algum tipo de atenção, mesmo que seja de críticos dos quais pretende se desvencilhar mediante os argumentos previamente estudados para tal ocasião. A vida do cidadão comum é uma constante tentativa de fugir da massa, de atrair os olhares para si, muitas vezes chegando a pontos cada vez mais ousados. Prova disso são as recorrentes manifestações de

Viver é caminhar no escuro

A vida não vem com um manual de instruções. Bem que gostaríamos que ela viesse, mas ela não vem. Por isso passamos boa parte de nossa existência pura e simplesmente tentando achar um sentido para direcionar as nossas forças e energias. Temos necessidade de verdades, de explicações que nos pareçam indubitáveis e confiáveis para guiar os nossos passos. No entanto, a vida parece sentir prazer em nos deixar sempre com uma certa desconfiança a respeito de tudo o que nos cerca e de todas as explicações que nos são apresentadas. Viver é caminhar no escuro, e cada explicação é uma lanterna que nos mostra uma possibilidade de sentido. Porém, cada lanterna possui uma coloração diferente e pinta o mundo que nos apresenta com nuances que não sabemos até que ponto refletem as características desse mundo ou da própria luz por ela emanada. A explicação não só desvenda a realidade, ela também a constrói a sua maneira e de acordo com a sua própria lógica. A lógica da explicação seria a mesma da rea

Queremos companhia

As pessoas querem companhia, direta ou indiretamente. Quando falamos de nossas concepções políticas, religiosas ou o que quer que seja, queremos compará-las com as de nosso interlocutor e procurar outros que compartilhem da mesma visão de mundo que nós. Mesmo aqueles que não gostam muito da companhia alheia se sentem incomodados por existirem pessoas que pensam de maneira muito diferente da sua, ainda que não haja nenhum contato direto entre elas. A simples existência desse ser humano tão oposto já é o suficiente para causar um certo desconforto. Dizemos muitas vezes que procuramos ter a nossa própria identidade, que não nos importamos com a opinião alheia e que cada um deve seguir a sua vida como achar melhor. No entanto, não é raro perceber o quanto as pessoas se apressam a julgar o comportamento alheio e a fazerem um discurso de como seria o mundo ideal, ignorando que isso já pressupõe uma visão a respeito de como o outro deveria se comportar para que o meu mundinho fosse mais a