O preconceito não é algo novo e nem podemos conviver totalmente sem ele. Sempre estamos a rotular situações e pessoas com base em pressupostos que nos permitem identificar rapidamente, mas que ao mesmo nos afastam de um a experiência própria a respeito de um determinado tema.
O preconceito se encontra em toda parte, e quando ele se apossa de certos setores como a nossa linguagem, ele passa a influenciar nossa forma de pensar e lidar com determinadas situações e, consequentemente, justifica uma criação preconceituosa de juízos de verdade e de valor por meio de termos corriqueiros, com ares de comentários espontâneos sobre um tema específico, não nos deixando perceber as visões pré-concebidas que fundamentam tais afirmações.
Exemplos dessa contaminação da linguagem cotidiana pelo preconceito são os termos como os que se usam para dizer que alguém é muito esfomeado: “você parece que veio do Ceará”, dando a entender que as pessoas que habitam esse local são todas privadas de alimentos e sem modos ao se alimentar. Outro exemplo, ainda demonstrando o preconceito contra os nordestinos se encontra no fato de que quando uma pessoa faz algo mal feito, muitos se apressam em dizer que tal pessoa fez uma “baianagem”, ou seja, lançando a ideia de que é típico do morador deste estado em questão realizar atividades de maneira mal feita. Também podemos citar o caso de que quando se veem um grupo de pessoas fazendo barulho de maneira desorganizada logo alguém se apressa em exclamar: “parecem um bando de índios”.
Outros termos usados com intuito depreciativo como “paraíba”, “negrice”, “viadagem”, povoam nosso vocabulário cotidiano e nos empurram a demonstrar, mesmo sem perceber, uma postura restritiva e disseminadora de preconceito contra diversos grupos que representam algumas das principais minorias do país. E não adianta dizer que são simplesmente modos de falar, sem nenhuma intenção de ferir quem quer que seja, pois quem fala pode até não perceber o quanto está divulgando esse tipo de visão do outro, mas certamente quem ouve entende a mensagem e muitas vezes se ressente ou acaba por crer na ofensa como uma constatação de sua real inferioridade em relação a quem profere o parecer depreciativo.
Obviamente não devemos instaurar uma ditadura do “politicamente correto”. Porém, uma vez que um preconceito consegue se infiltrar em nossa linguagem rotineira, ela passa a nos fazer agir naturalmente e sem nenhum raciocínio crítico sobre a profundidade daquilo que estamos afirmando ou negando. Fazendo assim com que perpetuemos uma visão de mundo deturpada e discriminatória contra um ou mais grupos com menor poder dentro da nossa sociedade.
Vivemos em um mundo globalizado, nitidamente multicultural, multifacetado, onde diversas perspectivas e visões de mundo interagem o tempo todo. Convivemos o tempo todo com pessoas que possuem gostos, preferências, ideias, visões de mundo muito diferentes das nossas e muitas vezes até batemos no peito para enfatizar a “beleza” dessa diferença entre as pessoas. Mas será que esse discurso de exaltação da diferença é mesmo genuíno? A diferença é para nós o tempero que deixa a vida mais saborosa ou aquilo que justamente amarga as nossas bocas e nos tira o bom humor? Quando se pensa nas intermináveis guerras de torcida, acusações entre as igrejas e seus membros sobre qual seria a “mais verdadeira”, a que não “serve ao inimigo”, e outras alegações afins, nos partidos políticos que não se entendem e elevam suas divergências para além do bem da população pela qual deveriam zelar, além de outros tipos de preconceitos quanto ao gosto musical, estilo de se vestir, classe social, cor de pele, orie...
Isso é apenas a ponta do iceberg! Que é agravado pela discriminação cultural. Já percebeu que muita gente busca em sua arvore genealógica uma origem europeia? Ninguém quer ser descendente do Zumbi de Palmares! É claro que o vocabulário exterioriza esse preconceito, mas ele é só um sintoma do câncer. Olha, isso vai longe. Gostei do seu post e fica ai uma sugestão para pesquisa. Vamos cavar mais fundo!
ResponderExcluirCertamente, Flávio, o assunto é bem mais profundo do que aquilo que foi aqui expressado. Mas a pretensão deste blog é justamente remexer um pouco esse fundo pretensamente calmo e levantar a discussão sobre os temas que não estão tão aparentes a primeira vista, dificilmente esgostaríamos todos esses temas que propomos aqui com tão poucas linhas. Agradeço seu comentário e sua sugestão. Grande abraço!!!
Excluiresgotaríamos* (correção)
Excluirque merda
ResponderExcluirquee boooooooooooooom
ResponderExcluiraveeeeeeeeeeeeee