O preconceito não é algo novo e nem podemos conviver totalmente sem ele. Sempre estamos a rotular situações e pessoas com base em pressupostos que nos permitem identificar rapidamente, mas que ao mesmo nos afastam de um a experiência própria a respeito de um determinado tema.
O preconceito se encontra em toda parte, e quando ele se apossa de certos setores como a nossa linguagem, ele passa a influenciar nossa forma de pensar e lidar com determinadas situações e, consequentemente, justifica uma criação preconceituosa de juízos de verdade e de valor por meio de termos corriqueiros, com ares de comentários espontâneos sobre um tema específico, não nos deixando perceber as visões pré-concebidas que fundamentam tais afirmações.
Exemplos dessa contaminação da linguagem cotidiana pelo preconceito são os termos como os que se usam para dizer que alguém é muito esfomeado: “você parece que veio do Ceará”, dando a entender que as pessoas que habitam esse local são todas privadas de alimentos e sem modos ao se alimentar. Outro exemplo, ainda demonstrando o preconceito contra os nordestinos se encontra no fato de que quando uma pessoa faz algo mal feito, muitos se apressam em dizer que tal pessoa fez uma “baianagem”, ou seja, lançando a ideia de que é típico do morador deste estado em questão realizar atividades de maneira mal feita. Também podemos citar o caso de que quando se veem um grupo de pessoas fazendo barulho de maneira desorganizada logo alguém se apressa em exclamar: “parecem um bando de índios”.
Outros termos usados com intuito depreciativo como “paraíba”, “negrice”, “viadagem”, povoam nosso vocabulário cotidiano e nos empurram a demonstrar, mesmo sem perceber, uma postura restritiva e disseminadora de preconceito contra diversos grupos que representam algumas das principais minorias do país. E não adianta dizer que são simplesmente modos de falar, sem nenhuma intenção de ferir quem quer que seja, pois quem fala pode até não perceber o quanto está divulgando esse tipo de visão do outro, mas certamente quem ouve entende a mensagem e muitas vezes se ressente ou acaba por crer na ofensa como uma constatação de sua real inferioridade em relação a quem profere o parecer depreciativo.
Obviamente não devemos instaurar uma ditadura do “politicamente correto”. Porém, uma vez que um preconceito consegue se infiltrar em nossa linguagem rotineira, ela passa a nos fazer agir naturalmente e sem nenhum raciocínio crítico sobre a profundidade daquilo que estamos afirmando ou negando. Fazendo assim com que perpetuemos uma visão de mundo deturpada e discriminatória contra um ou mais grupos com menor poder dentro da nossa sociedade.
A maioria da população possui um conhecimento limitado a respeito das coisas. Qualquer um concorda com isso. No entanto, ninguém concorda que esteja inserido dentro desta maioria. Podemos comparar esta situação com na leitura do Mito da Caverna, de Platão, que sempre lemos na crença de que somos como o prisioneiro liberto e esclarecido, e nunca como aquele que permanece na escuridão da ignorância, rejeitando quem verdadeiramente vem nos oferecer um caminho para sair da caverna das ilusões. Descartes, sabiamente disse que “o bom senso é a coisa mais bem distribuída de todas. Todos acham que a possuem em quantidade suficiente e ninguém acha que precisa obter mais”. Certamente ele deve ter dito isto com a intenção de debochar da nossa suposição de estarmos certos em tudo o que fazemos, pois dificilmente alguém acha que precise ter mais noção das coisas do que já tem. Todos querem mais dinheiro, conhecimento, reconhecimento, tudo. Menos ter mais bom senso. Este nos parece estar sempre...
Isso é apenas a ponta do iceberg! Que é agravado pela discriminação cultural. Já percebeu que muita gente busca em sua arvore genealógica uma origem europeia? Ninguém quer ser descendente do Zumbi de Palmares! É claro que o vocabulário exterioriza esse preconceito, mas ele é só um sintoma do câncer. Olha, isso vai longe. Gostei do seu post e fica ai uma sugestão para pesquisa. Vamos cavar mais fundo!
ResponderExcluirCertamente, Flávio, o assunto é bem mais profundo do que aquilo que foi aqui expressado. Mas a pretensão deste blog é justamente remexer um pouco esse fundo pretensamente calmo e levantar a discussão sobre os temas que não estão tão aparentes a primeira vista, dificilmente esgostaríamos todos esses temas que propomos aqui com tão poucas linhas. Agradeço seu comentário e sua sugestão. Grande abraço!!!
Excluiresgotaríamos* (correção)
Excluirque merda
ResponderExcluirquee boooooooooooooom
ResponderExcluiraveeeeeeeeeeeeee