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Mostrando postagens de 2014

Heroísmo e mediocridade

Num mundo cercado pela mediocridade, obter destaque no que quer que seja significa automaticamente se tornar alvo de ataques de tipos variados. Aliás, no grau de mediocridade em que nos encontramos qualquer tipo de atitude, por mais banal que seja, é divulgada como algo extremamente extraordinário e digno de nota. Há quem poste fotos do almoço, da festa com os amigos, quem se vanglorie das menores coisas e até mesmo de pequenos atos de vandalismo ou indisciplina escolar para se autopromover. Não há mais grandes feitos heroicos do que se orgulhar, por isso qualquer atitude, por mais corriqueira que seja, adquire ares de grandiosidade e ousadia. Vivemos num mundo estagnado e anestesiado, onde as pessoas não querem se arriscar demais em suas vidas, a não ser para exagerarem nas drogas, nas bebidas, rachas ou discussões inférteis pela Internet. Mas todas essas atitudes, por mais que pareçam exageradas e subversivas, no fundo escondem um profundo tédio existencial, um cansaço de si mesmo

Minha verdade é melhor do que a sua

Estamos sempre tão envolvidos com nossas concepções e visões de mundo que muitas vezes não percebemos a contradição implícita no nosso discurso cotidiano, principalmente sobre temas que nos interessam ou nos afetam diretamente. Quando se trata de política, religião ou algum tema tido como fundamental em nossas vidas, a situação se torna ainda mais evidente. Facilmente vemos pessoas se traindo ao falar de suas concepções como óbvias e exigindo o máximo rigor na fundamentação do discurso alheio, ou então apontando pontos problemáticos no pensamento dos outros como inadmissíveis, mas totalmente condescendente com as contradições apresentadas dentro do seu próprio pensamento ou concepção de qualquer cunho. No âmbito político e econômico, podemos ver as pessoas ridicularizando esquerdistas, direitistas, conservadores, liberais, comunistas, capitalistas etc... como se estivessem de um ponto onde não pudessem ser atingidas por nenhum tipo de crítica, e se essas críticas aparecem, são rebati

O debate político no Brasil

Em ano eleitoral as pessoas, ao contrário do que se costuma dizer sobre os brasileiros, costumam falar mais de política e, apesar da falta de tradição em discussões nesse assunto, se atrevem a se posicionar ou pelo menos expor alguma opinião sobre o tema. Alavancado pelas manifestações do ano passado e os grupos que ainda saem às ruas aproveitando a visibilidade provocada pela Copa do Mundo de futebol, o debate político invadiu principalmente as comunidades das redes sociais e vem aumentando como tema das postagens compartilhadas principalmente pelos descontentes com os atuais governos, em todas as esferas, principalmente a federal. Mas o que se pode perceber apesar de todo o avanço que é ver as discussões se ampliando e tomando conta do espaço público é, talvez por falta de uma maior tradição de estudos e interesse nesse aspecto, que os debates ainda beiram muito o senso comum e carecem de um aprofundamento teórico e conceitual, fazendo com que as discussões, na maioria das vezes, f

Tédio, mudança e verdades

Vivemos num mundo entediado, onde o ritmo das mudanças tem que ser cada vez mais acelerado porque as pessoas não são capazes de suportar o contato consigo mesmas, carecendo, assim, de meios que as afastem da incômoda autopercepção. Os aparelhos eletrônicos, drogas, álcool, redes sociais, festas e tudo o mais em vez de serem formas de distração se tornaram maneiras de se evitar o olhar para dentro de si, para o abismo que cada um guarda em seu inconsciente, e por medo de confrontá-lo opta por evitá-lo. Em tempos onde só a alegria pode ser compartilhada, a tristeza, o tédio e a existência comum deve ser ocultada a qualquer preço. Todos têm que postar as fotos das festas onde vão, da comida, da banda, da turma, sair de casa com “os melhores”, se ficar em casa postar fotos do que está fazendo... Nossa existência tem que ser objeto de observação alheia, e atraente o suficiente para ser curtida e invejada. A mudança deve ser constante para justificar as atualizações no perfil, na falta de

Em busca de sentido

Costumo dizer sempre que o universo não se explica para nós, somos nós que vamos ao encontro das coisas tentando atribuir-lhes um significado. O problema é quando percebemos que algumas explicações já consolidadas tornam-se tão imponentes que as pessoas se esquecem do caráter arbitrário das mesmas, ou seja, são criações nossas, pessoais ou culturais, com as quais procuramos acessar a realidade e ditar um rumo para nossas ações no mundo. Quando falamos de religião, ciência ou qualquer outro mecanismo de organização da realidade, estamos nos referindo a tentativas humanas de organizar a realidade e dali tirar um roteiro seguro para nossas ações, para o conhecimento, relações humanas, enfim, para dar um sentido ao caos que permeia a nossa breve passagem por esta vida, tão atribulada pela autoconsciência, a percepção que nos distingue dos outros animais, mas que, ao mesmo tempo, faz com que nos sintamos tão alheios ao resto dos seres que habitam este planeta e tão isolados mesmo em relaç