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Mostrando postagens de setembro, 2017

Frustração

Em tempos onde só se pode divulgar o sucesso, a frustração é um sentimento que todos querem evitar. Ela nos faz recordarmos das nossas limitações, de que não somos tão bons quanto gostaríamos e nem somos capazes de vencer tanto quanto desejamos. Ela é um lembrete constante da nossa finitude, nossa incapacidade de determos o controle total sobre aquilo que se passa em nossas vidas e à nossa volta. Nos frustramos por não obtermos tudo o que desejamos, por não vencermos todas as disputas nas quais nos envolvemos, por não obtermos o reconhecimento por aquilo que fazemos, por não termos tempo suficiente para nos dedicarmos às pessoas e às atividades que prezamos. Enfim, nos frustramos por tudo aquilo que escapa entre nossos dedos sem que sejamos capazes de segurá-lo de alguma forma. Nos culpamos mesmo tendo em mente que muitas dessas vezes não tínhamos condições de garantir o sucesso. Nos culpamos porque de alguma forma sentimos que o resultado deveria ser diferente e não conseguimos

Quanto mais tenho certeza, menos quero dialogar

As convicções são inimigas do diálogo. Se alguém acredita estar imbuído de razão indiscutível a respeito de algo, dificilmente se abrirá ao diálogo. O diálogo é para quem aceita a possibilidade de verdade também no discurso do outro, quem está disposto a realmente colocar as suas convicções à prova. É algo bastante paradoxal quando observado com maior proximidade: quanto mais óbvia parece uma verdade a alguém, menos essa pessoa está disposta a defendê-la dentro de um debate aberto, alegando que seu ponto de vista é tão nítido e claro, portanto incabível de discutir. E quem o contraria certamente renunciou à razão ou está agindo de maneira mal intencionada. Ou seja, o argumento se volta para desqualificar o oponente e não as suas ideias. O outro vira inimigo e indigno de crédito a partir do momento em que discorda em algo considerado relevante. As pessoas confundem debate com bate-boca. Troca de argumentos, com troca de ofensas. Como se a verdade pudesse ser imposta por meio da fo

Vício

Não nos viciamos apenas em drogas, jogos ou pessoas. Viciamos também em sensações. Principalmente em sensações. As sensações nos remetem a um sentimento de plenitude e satisfação, ou pelo menos afastam o mal estar, e isso por si só já nos causa um certo anestesiamento, um alívio para o desconforto de viver. Vício é tudo aquilo que não conseguimos deixar de fazer. O grande triunfo do vício é nos tirar a autonomia, a nossa capacidade de agir de acordo com nossas próprias escolhas, conscientemente. Para além dos diversos males que cada vício pode causar, este é o primeiro e o principal deles. Ele tira a nossa dignidade, nossa capacidade de agir conforme aquilo que conscientemente definimos para nós. Faz com que nos tornemos autômatos, agentes que só se direcionam com o intuito de sanar aquilo que o vício nos impõe. Vai minando pouco a pouco a nossa capacidade de decidir, e nos tornamos subalternos, incapazes de ter vontade própria. A busca daquela sensação primeira, aquela que nos t