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A "verdadeira história" e a lacração da extrema direita

 Ultimamente a extrema direita percebeu um fato importante, não há comprovação factual ou registros daquilo que eles propagandeiam pela internet aos altos brados, como se se tratassem de verdades reveladas e que de tão preciosas foram propositalmente escondidas dos olhos do grande público. São fatos que supostamente confirmariam todo o seu rosário de alegações, a prova de toda a farsa que supostamente a esquerda teria enfiado nos livros de História e que passaria a limpo o Brasil, trazendo uma nova luz e uma perspectiva totalmente revisada de todo o conhecimento construído, propagado e tomado como verdade tanto pela academia como pelas pessoas comuns.

No entanto, um fator interessante se coloca. Ninguém sabe apontar onde estaria essa tão importante fonte de provas que provocaria a reviravolta tão anunciada. Sempre que é feita a indagação a respeito desse ponto as respostas são sempre evasivas e sem fundamentação. Geralmente se diz que a esquerda distorceu os fatos e que construiu uma narrativa colocando seu ponto de vista como a realidade. Mas os fatos são construídos em grande parte a partir de documentos oficiais, composto pelos próprios governos das épocas que se critica, ou seja, toma-se aquilo que a própria versão oficial colocou como fato. Quando a extrema direita quer justificar seu ponto de vista, não é capaz de pegar esses mesmos dados construídos por quem ela quer justificar ou defender e fazer daquele material algo que possa ser usado como argumento. E para além disso, por não conseguir achar nada que possa usar como munição então se descontrola.

É muito comum ouvir chavões como: "contem a verdadeira História", "um dia todos ainda saberão de toda a verdade", "parem de contar essa versão enganosa", "vão procurar a versão verdadeira desse evento em vez de reproduzir essa enganação que te ensinaram", isto é, uma série de frases "lacradoras" e sem nenhum fundo documental que as ampare, visto que os próprios documentos oficiais que fundamentariam suas verdades mais demonstram o contrário do que lhes confortam de alguma maneira.

Na impossibilidade de demonstrar uma outra versão da história e na incapacidade de inventar uma versão convincente dessa realidade fantasiosa, preferem tentar ganhar a discussão no grito e criando, em vez de narrativas que contraponham as que estão postas, a desconfiança cega e sorrateira à narrativa oficial, na tentativa de fazê-la ser vista como tão passível de desconfiança quanto as teorias mirabolantes que apresentam em vez de contrapô-las.

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