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Por que o diferente incomoda?

Vivemos em um mundo globalizado, nitidamente multicultural, multifacetado, onde diversas perspectivas e visões de mundo interagem o tempo todo. Convivemos o tempo todo com pessoas que possuem gostos, preferências, ideias, visões de mundo muito diferentes das nossas e muitas vezes até batemos no peito para enfatizar a “beleza” dessa diferença entre as pessoas. Mas será que esse discurso de exaltação da diferença é mesmo genuíno? A diferença é para nós o tempero que deixa a vida mais saborosa ou aquilo que justamente amarga as nossas bocas e nos tira o bom humor?
Quando se pensa nas intermináveis guerras de torcida, acusações entre as igrejas e seus membros sobre qual seria a “mais verdadeira”, a que não “serve ao inimigo”, e outras alegações afins, nos partidos políticos que não se entendem e elevam suas divergências para além do bem da população pela qual deveriam zelar, além de outros tipos de preconceitos quanto ao gosto musical, estilo de se vestir, classe social, cor de pele, orientação sexual, local de nascimento ou onde se vive, dentre tantos outros, essa fala sobre a diferença parece não ser somente de aceitação pacífica e coexistência amigável, mas também de muita disputa e desavença no que tange ao velho e conhecido padrão de bom e mau, certo e errado.
Por que é tão difícil aceitar o outro? Simples. Porque ele não sou eu. E por não ser eu sempre vai apresentar características divergentes e que mais cedo ou mais tarde irão me incomodar em algum aspecto. A diferença do outro me mostra que o meu ponto de vista não é o único possível e talvez nem mesmo o mais correto ou melhor. E isso me assusta tanto quanto me incomoda, causa repulsa, faz com que eu queira me defender dessa possibilidade indigesta que faz tremer as bases das certezas que eu tenho sobre mim mesmo e sobre o meu mundo. Na lógica do certo e errado, se o outro está certo, eu não estou. Pensar isso me faz mal. Se eu estou certo, o outro está errado, ele precisa saber disso. Mas como eu sempre vou tender mais para o meu lado do que para o do outro, sempre há a predominância da opinião de que o meu ponto de vista é o melhor, e o outro vai ter que admitir isso de algum modo. E esse “algum modo” infelizmente sempre se traduz em coação ou força física, impondo às minorias ou grupos com menor poder o peso do grupo opressor.
O diferente desestabiliza o modelo com o qual eu interpreto o mundo, é uma pedra na engrenagem, um cisco no olho. É alguém que destoa da paisagem, uma nota dissonante na minha música, tornando-a um simples ruído sem harmonia. A diferença é exaltada quando ela “não é tão diferente assim”, pois caso contrário ninguém a tem como bem-vinda. A diferença só é considerada boa no sentido em que ela, no seu diferenciar, reafirma o quanto o meu ponto de vista é correto, bom ou belo. Ela é até mesmo chique ou pitoresca quando ocorre a milênios no passado ou do outro lado do mundo. No máximo, que aconteça na casa do vizinho, não na minha. Caso contrário, é sempre preferível varrê-la para debaixo do tapete ou reduzi-la a algo que não cause dano, pois pensar o diferente implica pensar também em mim e no meu modo de vida, no quanto eu posso ter que me modificar. E quem disse que eu quero me modificar?

Comentários

  1. Distinguir o certo e o errado, vem de nossa criação... Tão quão acreditamos naquilo que é certo algo que almejamos, ou achamos correto fazer, mas nem sempre, isso tange a verdadeira efetividade do assertivo em nossas vidas.
    Aceitar o próximo não apenas envolve compaixão, ou consideração pelo próximo, é que estamos mais interesados em saber sobre nós mesmos, no que faremos em determinadas situações, preocupados sempre com nossos status, ou com a nossa imagem, mas é algo que todos precisamos praticar é a EMPATIA!
    Todos nós somos dependentes de um grupo social, e isso ocorre por algum tipo de identificação, ou semelhança nos pontos de vistas, ou no modo em que fomos criados, geramos nossos valores, em nossa formação e tudo mais, mas muitas pessoas são tementes ao popular dito, MENTE ABERTA... Eu adoro conhecer o novo, interar-me com pessoas sejam elas quem são, apenas acredito, que só tem a me acrescer! Mas isso, é meramente meu ponto de vista, perante as diversas opiniões pessoais, e conceitos dos relacionamentos interpessoais.
    O diferenciar, gera-se o autentico modo de ser e pensar, mas pensando pelo que diz, nem somos tão diferentes assim... de um modo resumido, somos todos concebidos a mesma forma, habitamos um mundo que embora as diversas culturas, todos têm sua dependencia de trabalhos e interesses pessoais a batalhar, além do que, sempre somos crentes a algo que acreditamos, ex. religião. Nos prender as diferenças, nem sempre nos torna sábios, questioná-las, pode ser algo indiscutível, mas o que mais importa, é estarmos munidos dessa ciencia, do diferenciar, para nos deparar com pessoas como você, a qual amamos confrontar idéias, e aprender uma bela maneira de escrever. Aprender com o diferente, aquele que não age e pensa como a gente, o simples fato do admirar, ao invés de descriminar!
    Keity

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  2. Eis aí uma coisa bem difícil, admirar em vez de discriminar. Nossa mente trabalha com um software pra separar bom e mau, certo e errado e muitas vezes deixamos o bom senso de lado e partimos para a agressão (nos mais variados sentidos) de todos os tipos de opiniões e comportamentos que não se adequam àquilo que julgamos adequado ou correto.A capacidade de empatia, colocar-se no lugar do outro, além de complexa, é muito rara até mesmo de ser tentada. Somos todos sim muito influenciados pela educação que tivemos e os valores incrustados em nossa cultura, mas além disso também somos fruto de nossas escolhas e da leitura que fazemos desses valores e ideias que nos foram pela cultura e educação nos passado.
    Augusto

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  3. Não estamos acostumados com o que é diferente.
    Infelizmente não temos a sabedoria necessária para lidar com isso.
    As pessoas estão acostumadas a uma coisa, e quando vem outra,acham que é o fim do mundo!
    a sociedade não gosta de mudanças senão ela perde o controle e pessoas diferentes geralmente causam mudanças,tudo que é diferente,foge ao controle das pessoas,quando tudo está igual,tudo está sob controle há gente que não se conforma em perder o controle de nada, elas querem controlar a vida de todo mundo,no trabalho,na escola,em casa,nas ruas,sentem-se inseguras,vulneráveis,porque "alguém está fora do controle" delas.
    Os diferentes incomodam porque muitas das vezes têm coragem de fazer o que muitos gostariam, mas, não fazem por motivos éticos talvez.
    Everton Mc.Da Silva.2°B.

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  4. O "diferente" incomoda por que queremos não o compeendemos.As atitudes do "diferente" não combina com as atitudes que a maioria das pessoas teriam.Porque estamos habituados a ver as mesmas coisas sempre e quando aparee algo de difente,,aaba sendo uma coisa fora do comum,o que inomoda a maioria.
    Mas temos que ter uma visão de que a sociedadeé formada por indivíduos de diversas raças,religiões,opiniões políticas com as mais variadas visões de mundo etc.A convivênia om essas diferenças é importante para o rescimento e a evolução da espécie humana.Sendo assim,por exemplo a prática do racismo e do preconceito se torna ainda mais incoerente,pois ninguém deseja lutar contra o próprio desenvolvimento.É necessário compreender que a humanidade é constituída por seres humanos,iguais na matéria e diferentes na alma,mas ainda é assim seres humanos.Aquele que discrimina o outro,esta na realidade exluindo a si próprio,não de uma religião ou etnia,mas sim da própria raça humana.
    MAYARA MARA DA SILVA 2°B

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  5. Preciso de suas orientações para o desenvolvimento de uma apresentação teatral que tem como temática o assunto que você aborda. Espero contato: jairoreges@hotmail.com

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  6. Eu gostei muito do texto mas em preto o fundo do blog arde o olho tenho miopia

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