Observando-se a contradição que parece existir quando se pensa em uma vida feliz e realizada, a saber, a vontade de se acessar um estágio de plenitude, realização e tranquilidade e, ao mesmo tempo, perceber o quanto nos entediamos rapidamente quando atingimos algo que desejávamos ou a rapidez com a qual substituímos um objetivo alcançado por outro ainda por atingir.
Alcançar o meio-termo não é fácil e muitas vezes acabamos nem mesmo aproveitando as conquistas obtidas, perdendo assim a capacidade de nos alegrar com os nossos próprios êxitos e vivendo sempre em busca daquilo que não possuímos, desperdiçando o que temos nas mãos em virtude do que sempre está por vir e que talvez nunca chegue.
Talvez, pensando nas premissas dadas, possamos concluir, percebendo que a vida é um constante processo e que sempre teremos mais e mais atividades a realizar, metas a perseguir, até o fim de nossos dias, que a felicidade seria ter a impressão de que, apesar dos percalços, estamos seguindo o “nosso” caminho, aquele que nos realiza enquanto seres humanos únicos e individuais. Também aquele que é capaz de conciliar os mais diversos âmbitos de nossos interesses, como família, trabalho, amizades, lazer, dentre outros, pois se alguém trabalha em algo que gosta, porém este emprego não é capaz de satisfazer as necessidades de sua família ou as suas próprias provavelmente não se sentirá bem, e o mesmo se poderia dizer daqueles que realizam alguma atividade lucrativa, porém que não lhe satisfaz pessoalmente.
À primeira vista parece uma espécie de utopia tentar conciliar esses fatores objetivos e subjetivos, a sensação de bem estar, o retorno financeiro e a percepção intuitiva de que se está no caminho correto. Uma definição bem pouco científica, mas quando se fala de um tema tão escorregadio como esse, fica difícil manter-se naquilo que é estritamente racional ou demonstrável. Por isso, ainda que incerto da validade universal deste conceito, essa ideia é a que mais parece coerente com uma vida que se possa definir como sendo autenticamente feliz.
Vivemos em um mundo globalizado, nitidamente multicultural, multifacetado, onde diversas perspectivas e visões de mundo interagem o tempo todo. Convivemos o tempo todo com pessoas que possuem gostos, preferências, ideias, visões de mundo muito diferentes das nossas e muitas vezes até batemos no peito para enfatizar a “beleza” dessa diferença entre as pessoas. Mas será que esse discurso de exaltação da diferença é mesmo genuíno? A diferença é para nós o tempero que deixa a vida mais saborosa ou aquilo que justamente amarga as nossas bocas e nos tira o bom humor? Quando se pensa nas intermináveis guerras de torcida, acusações entre as igrejas e seus membros sobre qual seria a “mais verdadeira”, a que não “serve ao inimigo”, e outras alegações afins, nos partidos políticos que não se entendem e elevam suas divergências para além do bem da população pela qual deveriam zelar, além de outros tipos de preconceitos quanto ao gosto musical, estilo de se vestir, classe social, cor de pele, orie...
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