Observando-se a contradição que parece existir quando se pensa em uma vida feliz e realizada, a saber, a vontade de se acessar um estágio de plenitude, realização e tranquilidade e, ao mesmo tempo, perceber o quanto nos entediamos rapidamente quando atingimos algo que desejávamos ou a rapidez com a qual substituímos um objetivo alcançado por outro ainda por atingir.
Alcançar o meio-termo não é fácil e muitas vezes acabamos nem mesmo aproveitando as conquistas obtidas, perdendo assim a capacidade de nos alegrar com os nossos próprios êxitos e vivendo sempre em busca daquilo que não possuímos, desperdiçando o que temos nas mãos em virtude do que sempre está por vir e que talvez nunca chegue.
Talvez, pensando nas premissas dadas, possamos concluir, percebendo que a vida é um constante processo e que sempre teremos mais e mais atividades a realizar, metas a perseguir, até o fim de nossos dias, que a felicidade seria ter a impressão de que, apesar dos percalços, estamos seguindo o “nosso” caminho, aquele que nos realiza enquanto seres humanos únicos e individuais. Também aquele que é capaz de conciliar os mais diversos âmbitos de nossos interesses, como família, trabalho, amizades, lazer, dentre outros, pois se alguém trabalha em algo que gosta, porém este emprego não é capaz de satisfazer as necessidades de sua família ou as suas próprias provavelmente não se sentirá bem, e o mesmo se poderia dizer daqueles que realizam alguma atividade lucrativa, porém que não lhe satisfaz pessoalmente.
À primeira vista parece uma espécie de utopia tentar conciliar esses fatores objetivos e subjetivos, a sensação de bem estar, o retorno financeiro e a percepção intuitiva de que se está no caminho correto. Uma definição bem pouco científica, mas quando se fala de um tema tão escorregadio como esse, fica difícil manter-se naquilo que é estritamente racional ou demonstrável. Por isso, ainda que incerto da validade universal deste conceito, essa ideia é a que mais parece coerente com uma vida que se possa definir como sendo autenticamente feliz.
A maioria da população possui um conhecimento limitado a respeito das coisas. Qualquer um concorda com isso. No entanto, ninguém concorda que esteja inserido dentro desta maioria. Podemos comparar esta situação com na leitura do Mito da Caverna, de Platão, que sempre lemos na crença de que somos como o prisioneiro liberto e esclarecido, e nunca como aquele que permanece na escuridão da ignorância, rejeitando quem verdadeiramente vem nos oferecer um caminho para sair da caverna das ilusões. Descartes, sabiamente disse que “o bom senso é a coisa mais bem distribuída de todas. Todos acham que a possuem em quantidade suficiente e ninguém acha que precisa obter mais”. Certamente ele deve ter dito isto com a intenção de debochar da nossa suposição de estarmos certos em tudo o que fazemos, pois dificilmente alguém acha que precise ter mais noção das coisas do que já tem. Todos querem mais dinheiro, conhecimento, reconhecimento, tudo. Menos ter mais bom senso. Este nos parece estar sempre...
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