Depois do fato ocorrido na escola do ABC Paulista, onde um aluno de dez anos atirou na professora e depois se suicidou, creio que seja a hora de pensarmos mais um pouco sobre os rumos da educação no Brasil. Esse caso pode ter sido uma fatalidade, mas está longe de ser um fato isolado para muitos professores de todo Brasil. É comum ouvir críticas ao modelo de educação aplicado no Brasil, mas pouco se fala do profissional acuado dentro da sala de aula, sem nenhum direito, com excesso de cobranças, mal remunerado e que ainda por cima carrega o fardo de “preparar o futuro do país”. Os nossos políticos ganhando mais de vinte mil reais por mês não conseguem preparar meia dúzia de leis e ainda acham que alguém ganhando pouco mais que um salário mínimo tem condições de dar conta de preparar as futuras gerações.
Muitos secretários da educação dizem que o problema não é só o salário (o deles com certeza não é mesmo), mas há algum tempo atrás um deputado disse que nenhum cidadão comum consegue viver dignamente com doze mil reais por mês, tentando justificar o aumento pretendido ao próprio salário. Eu pergunto: um professor consegue viver dignamente com o salário que ganha? Indo pra escola e ouvindo os próprios alunos dizerem que nunca querem ser iguais a ele porque aquilo que ele leva não é vida? Vendo que seus alunos do EJA vão pra escola com carros três vezes mais caros que o dele e que os mesmos são muito mais bem remunerados que o professor, mesmo tendo uma escolaridade bem inferior?
Esse tiro que a professora do ABC levou não foi o único, toda a classe docente e a educação como um todo leva um tiro todos os dias, e agoniza aos poucos enquanto muito palavrório se acumula nas assembleias, conselhos e fóruns sobre a educação que acontecem aqui e acolá, sempre enfatizando o papel do professor, seus deveres e atribuições nessa jornada para a melhoria da educação, porém sem nunca lhe perguntarem o que ele realmente precisa, quais são seus anseios, seus medos. Tudo é resolvido de cima para baixo, a gestão democrática passa longe tanto da escola pública quanto da privada. Os rumos da educação são decididos por especialistas que mal pisaram numa sala de aula, e se pisaram, foram em escolas-modelo, aquelas onde qualquer um faria um bom trabalho. Pergunte quem ali leciona numa escola de periferia, quem teve que pedir remoção por receber ameaças de alunos traficantes, quem teve que fazer vista grossa em alguma situação vexatória por temer pela própria segurança... Isso eu nunca li num livro de nenhum teórico da educação.
Os deputados e vereadores do estado de São Paulo estão aumentando os próprios salários entre sessenta a oitenta por cento de uma só vez enquanto os professores vão ter um aumento de quarenta por cento em quatro anos, e esse aumento não vai chegar nem a um décimo do que esses vereadores e deputados estão ganhando e, é claro, não será de se estranhar se até lá eles não tiverem aumentado os próprios salários novamente.
Educação nunca foi prioridade no Brasil, isto é fato. Só aparece na mídia hoje em dia por causa da alta demanda por mão-de-obra especializada, pois no mais, o melhor é deixar todo mundo na ignorância e manter o curral eleitoral. Povo que pensa cria problema e não se contenta com pouco. E é isso que nós temos no Brasil hoje, pouco. Pouco de tudo. Migalhas. Até o próprio professor passou a ser um sobrevivente das migalhas, sem voz, sem disposição, sem esperanças. Prova disso foi a greve dos professores no ano de dois mil e dez. Simplesmente deprimente. Um bando de baratas tontas incapazes de se organizar adequadamente e que só conseguiram foi uma bela quantia de sábados para repor durante o ano. Mais um tiro a queima roupa dado pelo governo do Estado.
E voltando mais uma vez ao caso do ABC, temo que o pai da criança, de quem foi adquirida a arma, seja menos interrogado e investigado que a professora que levou tiro. Esta última, não duvido, vai acabar sendo analisada cautelosamente para se tentar descobrir qual foi o erro procedimental por ela cometido para desencadear a desastrosa reação por parte do aluno.
Muitos secretários da educação dizem que o problema não é só o salário (o deles com certeza não é mesmo), mas há algum tempo atrás um deputado disse que nenhum cidadão comum consegue viver dignamente com doze mil reais por mês, tentando justificar o aumento pretendido ao próprio salário. Eu pergunto: um professor consegue viver dignamente com o salário que ganha? Indo pra escola e ouvindo os próprios alunos dizerem que nunca querem ser iguais a ele porque aquilo que ele leva não é vida? Vendo que seus alunos do EJA vão pra escola com carros três vezes mais caros que o dele e que os mesmos são muito mais bem remunerados que o professor, mesmo tendo uma escolaridade bem inferior?
Esse tiro que a professora do ABC levou não foi o único, toda a classe docente e a educação como um todo leva um tiro todos os dias, e agoniza aos poucos enquanto muito palavrório se acumula nas assembleias, conselhos e fóruns sobre a educação que acontecem aqui e acolá, sempre enfatizando o papel do professor, seus deveres e atribuições nessa jornada para a melhoria da educação, porém sem nunca lhe perguntarem o que ele realmente precisa, quais são seus anseios, seus medos. Tudo é resolvido de cima para baixo, a gestão democrática passa longe tanto da escola pública quanto da privada. Os rumos da educação são decididos por especialistas que mal pisaram numa sala de aula, e se pisaram, foram em escolas-modelo, aquelas onde qualquer um faria um bom trabalho. Pergunte quem ali leciona numa escola de periferia, quem teve que pedir remoção por receber ameaças de alunos traficantes, quem teve que fazer vista grossa em alguma situação vexatória por temer pela própria segurança... Isso eu nunca li num livro de nenhum teórico da educação.
Os deputados e vereadores do estado de São Paulo estão aumentando os próprios salários entre sessenta a oitenta por cento de uma só vez enquanto os professores vão ter um aumento de quarenta por cento em quatro anos, e esse aumento não vai chegar nem a um décimo do que esses vereadores e deputados estão ganhando e, é claro, não será de se estranhar se até lá eles não tiverem aumentado os próprios salários novamente.
Educação nunca foi prioridade no Brasil, isto é fato. Só aparece na mídia hoje em dia por causa da alta demanda por mão-de-obra especializada, pois no mais, o melhor é deixar todo mundo na ignorância e manter o curral eleitoral. Povo que pensa cria problema e não se contenta com pouco. E é isso que nós temos no Brasil hoje, pouco. Pouco de tudo. Migalhas. Até o próprio professor passou a ser um sobrevivente das migalhas, sem voz, sem disposição, sem esperanças. Prova disso foi a greve dos professores no ano de dois mil e dez. Simplesmente deprimente. Um bando de baratas tontas incapazes de se organizar adequadamente e que só conseguiram foi uma bela quantia de sábados para repor durante o ano. Mais um tiro a queima roupa dado pelo governo do Estado.
E voltando mais uma vez ao caso do ABC, temo que o pai da criança, de quem foi adquirida a arma, seja menos interrogado e investigado que a professora que levou tiro. Esta última, não duvido, vai acabar sendo analisada cautelosamente para se tentar descobrir qual foi o erro procedimental por ela cometido para desencadear a desastrosa reação por parte do aluno.
Concordo com você, Zé...
ResponderExcluirHá sempre questionamentos entorno ao comportamento de quem cometeu o ato, mas não há o mesmo com quem recebeu o de fato; nós professores estamos a mercê de todo o tipo de violência e não é a de força física não, e sim a moral.
Somos frutos de um sistema falido, cheio de hipocrisia e desmandos, nossa classe a cada dia vem sendo desvalorizada e por muitos desmerecida; nós professores que somos os precursores de todo o processo educativo estamos jogados ao léu,vagando sem ter uma direção....
Mas, acredito que temos que mudar isso através de nossos pensamentos e ações e mostrar a esses "governantes de meia tigela" que nós não somos seres sem nada na cabeça, não somos homens camarões e sim mudar o nosso país.
E quanto a o fato ocorrido no ABC, creio ter sido mais um daquelas coisas que não se explicam, contudo será que não deve haver nenhum fato obscuro que ainda a mídia não divulgou, temos que esperar que a professore se pronuncie; o que não podemos esperar é que não aja mais professores nas salas de aula para começarmos a fazer valer nossos direitos.
Lucilene
É verdade, Lucilene, nossa classe está praticamente abandonada e ainda por cima está levando toda a culpa pela falência na educação. E enquanto nós mesmos, que somos os mais afetados por toda essa leva de consequências negativas não tomarmos providências, as coisas só tendem a piorar. Tomara que nossa categoria se conscientize a tempo, porque se continuar essa estagnação que percebo por aí vai chegar a hora que nao vai dar mais para a gente lecionar. Vamos ter que buscar outra coisa para fazer em vez de dar aula. Infelizmente.
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