Em tempos onde só se pode
divulgar o sucesso, a frustração é um sentimento que todos querem evitar. Ela
nos faz recordarmos das nossas limitações, de que não somos tão bons quanto
gostaríamos e nem somos capazes de vencer tanto quanto desejamos. Ela é um
lembrete constante da nossa finitude, nossa incapacidade de determos o controle
total sobre aquilo que se passa em nossas vidas e à nossa volta.
Nos frustramos por não
obtermos tudo o que desejamos, por não vencermos todas as disputas nas quais
nos envolvemos, por não obtermos o reconhecimento por aquilo que fazemos, por
não termos tempo suficiente para nos dedicarmos às pessoas e às atividades que
prezamos. Enfim, nos frustramos por tudo aquilo que escapa entre nossos dedos
sem que sejamos capazes de segurá-lo de alguma forma.
Nos culpamos mesmo tendo
em mente que muitas dessas vezes não tínhamos condições de garantir o sucesso.
Nos culpamos porque de alguma forma sentimos que o resultado deveria ser
diferente e não conseguimos fazer com que ele fosse da maneira como
gostaríamos. Nos martirizamos mesmo sem ter certeza de que se realmente havia
alguma maneira de fazer com que o desfecho fosse outro. É só olharmos para trás
que aquela sensação está lá, nos perseguindo como um cachorro desobediente que,
por mais que o tentemos afastar, ele sempre nos espreita ao longe. E sempre
abana o rabo quando olhamos, na esperança de que desistamos de repeli-lo e
resolvamos deixar com que ele caminhe ao nosso lado.
No entanto o nosso
orgulho sempre é mais forte, e nos recusamos a admitir essa sombra a nos
acompanhar. Tentamos transmitir uma imagem de seres completos e perfeitos,
satisfeitos conosco mesmos e com a vida que levamos. Queremos ser dignos de
inveja, nunca de compaixão. E como caracóis, criamos uma carapaça espessa para
disfarçar o nosso frágil interior, esperando que as intempéries da vida não nos
atinjam ali dentro do abrigo que para nós construímos.
Temos medo de não
conseguir alcançar aquilo que desejamos. E temos ainda mais medo de não merecer
alcançar aquilo que desejamos. E esse último traço é sempre marcante na
frustração, a sensação de que nosso fracasso se dá por causa da nossa
incapacidade ou falta de merecimento. A sensação constante de que somos os
culpados pelo fracasso, que não somos bons o suficiente para que as coisas deem
certo para nós. Uma parte de nós se sente vítima, a outra se sente culpada, e
as duas se atacando mutuamente provocam um colapso na nossa personalidade. O
que acontece daí por diante vai depender da postura de cada um. Alguns se
apegam ao que encontram ao seu alcance e tentam escapar, outros se entregam e
deixam que essa correnteza os leve para sabe-se lá onde.
Não fomos educados para
lidar com as frustrações, talvez por isso nos seja tão penoso sair desse tipo
de situação fazendo da perda algo construtivo. Isso exige um amadurecimento que
leva um bom tempo para se construir. A capacidade de transmutação ainda é
timidamente exercitada pelas pessoas em geral. A resiliência é uma habilidade
ainda pouco desenvolvida e que não possui receita pronta para que se a adquira.
Nos falta também uma boa
dose de perdão para nos aceitarmos como somos e pelos males que nos autoinfligimos.
E por fim uma injeção extra de amor para que nos olhemos com compaixão e
sejamos capazes de buscarmos o nosso autoaperfeiçoamento sem nos cobrarmos
demais por causa das nossas limitações.
Perfeito!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirMuito bom!
ResponderExcluirObrigado!
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