Vivemos em uma constante
sensação de prejuízo. Sempre achamos que estamos perdendo de alguma forma e que
nos encontramos numa constante luta para não sermos os derrotados. Viver parece
uma constante disputa entre um bando de pessoas que estão todas no fio da
navalha, umas competindo com as outras num estado de “guerra de todos contra
todos” para se manterem de pé, para garantirem o mínimo para a sobrevivência e
um pouco de conforto, que não estão disponíveis a todos.
A miséria humana em tal
cena nos coloca frente a frente com um cenário lastimável: todos perdendo e ao
mesmo tempo se esforçando para estar numa situação menos degradante que a dos
outros. E para isso, cada um deixa de lado o sentimento de compaixão e alteridade
para fazer valer o seu próprio interesse em detrimento do dos demais, na mais
firme convicção de que os outros também estão agindo desta forma, cada qual não
hesitando em prejudicar o outro para não ser por ele prejudicado.
Um festival de pequenas
agressões que vão pouco a pouco moldando a nossa forma de interpretar o mundo,
nos situarmos nele e interagir com os outros. Pequenos veios capilares que com
o tempo acabaram por se tornar o alicerce de toda a estrutura social e
referência para as interações intersubjetivas. O pano de fundo onde as relações
se desenrolam e encontram sustentação.
É um jogo perverso onde
todos perdem, se desumanizam, mas seguem firmes na certeza de que se trata da
maneira mais eficaz de não ficar para trás, de não ser soterrado pela lama do
esquecimento e da desgraça. Um abismo onde todos caem juntos, mas cada um se esforça
para ficar por cima, pisando sobre as cabeças dos mais fracos, na esperança de
que ao tocar o fundo sejam amortecidos pelo esmagamento daqueles que ficaram
por baixo.
Aqueles que sentem dor
dificilmente se compadecem pela dor alheia, estão ocupados demais com as suas
próprias desgraças.
Meu querido amigo, lendo suas palavras e pensando sobre o quanto nosso sistema produtivo produz muito mais do que o necessário, além do quanto as decisões de produção são orientadas ao lucro ao invés da satisfação de nossas necessidades, tudo acaba fazendo sentido.. Aliás, um mau sentido. Urge, cada vez mais, superarmos as relações de produção no planeta. Não só o futuro do planeta estará garantido, como o futuro daquilo que ainda permanece humano em nós. Definitivamente não somos esses seres autômatos, reativos, egoístas e monolíticos que o sistema exige de nós.
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Grande honra ser seu amigo.