Não
somos fãs da democracia. Aliás, nem a conhecemos o suficiente para dela
fazermos uma análise adequada e dizermos o quanto ela nos agrada ou não.
Conhecemos apenas uma pequena parcela de suas atribuições, que se pauta na
resolução de problemas através da votação para constatar qual é a vontade da
maioria. Democracia é mais do que isso, ela é uma forma ampla de ver e viver a
vida em conjunto, promovendo ampla participação e a troca construtiva entre as
mais diversas vertentes e opiniões divergentes.
Nossa
sociedade não abre espaço de participação adequada para esse tipo de
participação, mas vários setores e segmentos se apressam em dizer que essa
forma de gerenciamento e condução da vida conjunta não funciona e que é
preferível um poder centralizador que mantenha a ordem do que o debate exaustivo
e que culmine em demasiado atendimento a interesses de outras vertentes que não
as suas.
Não
possuímos nenhuma instituição genuinamente democrática. Família, escola,
empresas, igreja etc. todas funcionam com base em estruturas hierárquicas, com
patamares e papéis bem definidos sobre onde é o lugar e qual a limitação da
participação de cada um dentro da engrenagem. Nossa democracia não passa de uma
votação de vez em quando para desfazer algum impasse que o consenso não alcança
ou então a cada dois anos, escolhendo candidatos a cargos públicos dos quais
nem nos informamos adequadamente a respeito de sua capacidade de realmente nos
representar nas câmaras municipais estaduais ou federais.
Por
isso, nos é tão estranha a ideia de que essa maneira de gerenciar a tal coisa pública dá conta de favorecer com
que as melhores ideias sejam contempladas e a vontade popular seja atendida nas
soluções adotadas. Também não somos simpáticos ao diálogo, qualquer ditadura é
aceita com mais facilidade do que a possibilidade de a opinião alheia
prevalecer, independentemente da ideologia política adotada. Nossa falta de
habilidade discursiva e negocial salta aos olhos e expõe facilmente nossos
piores instintos e nossos defeitos de caráter.
Não
podemos abrir mão desse pequeno lampejo democrático que apenas debilmente
começamos a vislumbrar. Pelo contrário, precisamos nos banhar de democracia e
lavar toda a nossa sociedade, em todas as suas instituições e até as pequenas
coisas que nos propomos a fazer todos os dias. Será um grande choque e uma
experiência dolorosa por causa da nossa falta de hábito e resistência a
atribuir voz e vez ao outro, principalmente às minorias. No entanto, caso não
seja desta forma, fatalmente de tempos em tempos ouviremos os resmungos dos
ressentidos a sonhar com algum tipo de ditadura que venha a “reconduzir o país
à ordem” e salvar a nação de algum inimigo imaginário que no fundo representa
só o seu medo de a voz do outro ser mais ouvida do que a sua.
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