A política e a religião
evidenciam algumas das piores facetas do ser humano. A justificativa para viver
e uma verdade indubitável na qual se amparar também acabam por definir bons
motivos para matar e outros tantos para se desmerecer e hostilizar o outro. A
convicção de pertencer ao lado correto, o lado do bem, o verdadeiro,
tranqüiliza a mente das pessoas para as maiores barbaridades. O homem
geralmente não tem medo de praticar atrocidades, ele tem medo é da consciência
pesada. Havendo um bom motivo, a consciência se apascenta e ele é capaz de
conviver consigo mesmo independentemente dos atos praticados.
Desde os homens-bomba aos
nazistas, dos supremacistas raciais aos paladinos da liberdade em geral, sejam
eles de direita ou esquerda, em todos os casos o que se percebe claramente é a
ilusão de verdade. Aquela ilusão que a tudo justifica, que transforma a maldade
em justa motivação. Qualquer ato encontra algum tipo de justificação que se
julga coerente.
Obviamente existem
inúmeras formas de maldade, mas nenhuma que se iguale àquelas praticadas por
aqueles que se amparam em motivos religiosos ou políticos, pois como se tratam
de motivos estruturantes, que dão sentido à vida das pessoas e as direcionam em
praticamente todos os aspectos de suas vidas, oferecem um roteiro completo para
dar sentido às suas vidas e uma explicação para cada coisa que ela ocorre. Por essa
mesma causa, quando uma ideologia dessas inclui de alguma forma a anulação do
outro e sua importância enquanto ser humano, dificilmente se encontra algum
tipo de oposição consistente por parte daqueles que participam do grupo.
A pluralidade de
pensamentos, linhas filosóficas, políticas e religiosas ajuda a manter o
equilíbrio entre as polaridades opostas, colocando as diferenças em debate e
estimulando a tolerância. No entanto, onde qualquer uma delas se torna
preponderante e majoritária, raramente não se torna tirana em relação às
demais. O poder potencializa e autoriza aquilo que de outra forma não seria
possível realizar. Aí é que muitas vezes se inicia a jornada de aniquilação do
outro, do contraditório.
Nesses momentos,
percebemos que aquilo a que se chama de “bem”, de “sociedade ideal”, na verdade
é interpretado da maneira mais simplista e pouco civilizada possível. Ela é a
expressão da barbárie e da tentativa de anulação do outro por todos os meios
possíveis e imagináveis, sem nenhuma característica de elevação espiritual ou
moral, pois como o outro é considerado inimigo e obstáculo ao mundo ideal a que
se almeja, ele pode ser tratado com todo o desprezo que se atribui a uma coisa
das mais odiosas. E colando-se nele o rótulo de empecilho ao mundo perfeito,
ele pode ser objeto de toda e qualquer atitude grotesca sem que se sinta
qualquer tipo de remorso. E ainda mais, muitas vezes o que se estimula é o
orgulho por se estar praticando com ele esse tipo de coisa.
Novamente, é necessário ressaltar
que existem muitos motivos para que as pessoas se odeiem e façam mal umas às
outras, mas em nenhum além dos casos citados a pessoa é capaz de voltar para
casa e junto dos seus entes queridos com sangue nas mãos e ao mesmo tempo com
uma sensação de dever cumprido e de ter prestado um grande serviço à sua nação
ou ao seu deus.
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