Sartre dizia que “estamos condenados à liberdade”. Isso parece ser uma grande verdade. E o termo que ele utiliza para se referir a nossa liberdade, a “condenação” a qual estamos submetidos e, portanto, irremediavelmente livres também é um termo muito oportuno. O fato de nos crermos livres e donos do nosso destino é o principal causador de nossas angústias, pois caso contrário só teríamos que nos conformar com o destino ou qualquer outro nome que quiséssemos dar para a força que nos moveria a um fim pré-determinado e sem respeitar as nossas escolhas. Porém, crermos que somos donos de nossos destinos e artífices de nosso mundo nos coloca frente a frente com a responsabilidade de arcar com o peso de tudo quanto decidimos e de todos os futuros aos quais recusamos.
Optar por algo significa ignorar todas as outras possibilidades que a vida nos oferece, negar a concretização de tantos outros modos de ser e viver aos quais também de certa forma nos apetecem. Isso tudo em um mundo onde somos estimulados a todo instante a não perder nenhuma oportunidade, a experimentar de tudo um pouco, a descartar rapidamente a tudo e a todos para podermos partir para a próxima experiência e, com isso, ter que escolher novamente qual será essa próxima oportunidade a usufruir.
Esse excesso de escolhas, excesso de descartes, excesso de novos chamados a permanecer em constante movimento que nunca proporciona uma plena realização e sempre gera somente uma obsolescência rápida e infrutífera nos empurra cada vez mais para aquilo que já é considerado o “mal do século”, a depressão. A depressão acaba por se manifestar dessa constatação da incapacidade de se autorrealizar satisfatoriamente e do cansaço de tantas escolhas feitas e que não trouxeram toda a felicidade desejada.
Desse modo, acreditar-se condenado à liberdade, em vez de fazer com que se as pessoas se conscientizem do quanto elas são donas de suas escolhas e podem usar desse conhecimento para se autodirecionarem de maneira mais criativa e consciente acaba por se tornar um fardo pesado demais a carregar, porque fazer escolhas e conviver com elas parece um peso com o qual, em geral, os ombros humanos ainda não se acostumaram. E na ânsia por atingir uma felicidade utópica e muito propagandeada, entra-se numa roda de escolhas sucessivas que, em vez de elevarem os seres humanos a uma maturidade optativa crescente o estão lançando num abismo de culpa e aflição. A liberdade então, de solução e caminho passa a ser uma maldição a nos assombrar a cada passo dado, como uma esfinge a todo instante lançando um novo enigma e a nos devorar independentemente da resposta que lhe oferecemos.
Augusto, meu amigo Filósofo.
ResponderExcluirA Filosofia é um grande caminho para libertar a mente humana.
A depressão é um mal necessário para o animal humano.
Sem ela, nos tornamos incapazes de reavaliar nossas vidas.
Analizemos os verdadeiros motivos em sermos angustiados e depressivos.....
Será que estamos valorizando demais o ter..e deixando o ser de lado?
O apego é um grande inimigo da Felicidade.
Estou feliz em reencontrar um grande amigo.
Abraço meu querido Augusto.
''Livres'',porém condenados?Para nós seres humanos, liberdade é como se criássemos asas e pudéssemos voar.Para Descartes,age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que procedem à escolha.É de total responsabilidade todo e qualquer ato que cometemos, até mesmo quando falsificamos o sentido da palavra e passamos a invalidar tudo aquilo que seria uma chance de tentarmos sair da prisão em que nós mesmo nos acometemos.Liberdade tem cheiro,tem cor e tem graça,uma vez livres verdadeiramente,nunca mais prisioneiros,libertos de pensamentos ou de coisas que nos envolveram nos roubando a paz,eis aí a nossa verdadeira liberdade!
ResponderExcluir...
ResponderExcluirAté que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga, in 'Diário XII'