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O que querem os alunos da USP?

Semana passada presenciamos um fato bastante curioso: Um grupo de estudantes da USP entrou em confronto com a polícia militar nos arredores da faculdade e depois tomaram a reitoria em sinal de protesto. Entretanto, os motivos dessa agitação toda e o mérito da atitude em questão não foram tomados como objeto de debate em nenhuma emissora que eu me recorde.
Quais foram os verdadeiros motivos que levaram a toda essa confusão? Ao que parece, e pelo menos até o momento não foi divulgado nem pelas emissoras de TV e nem pelos próprios estudantes argumentos melhores que estes, a confusão se deu porque três estudantes do campus em questão foram abordados pelos policiais militares e foi constatado que os mesmos portavam maconha. Autuados, seriam levados à delegacia para assinarem um termo relatando o fato e seriam liberados. Os colegas, não querendo que esse procedimento fosse realizado, enfrentaram a polícia e iniciou-se a confusão. Depois do enfrentamento, alguns estudantes tomaram a reitoria reivindicando a suspensão do convênio firmado entre a universidade e a Polícia Militar para que fosse feita um patrulhamento mais intensivo nos arredores da faculdade, coisa que os próprios estudantes pediam há alguns meses atrás por causa do assassinato de um estudante da USP durante uma tentativa de roubo.
O que querem estes estudantes então? Ao que parece, os policiais tocaram num ponto delicado, pois os estudantes reivindicam uma proteção parcial, que seja condizente com aquilo que é-lhes conveniente. Enquanto os policiais estiverem se portando como flanelinhas dos carrinhos blindados dos alunos ali fora, tudo bem. Mas, se ao contrário, se metem no que os estudantes estão fazendo durante o período de aula, dentro de um ambiente acadêmico, seja no consumo ou talvez até mesmo venda de drogas lícitas e ilícitas num local que deveria ser totalmente isento disto, aí já chamam tal atitude de repressão, falta de respeito pela autonomia universitária.
Que autonomia é esta que pode passar por cima da lei e mesmo contrariá-la? Esta autonomia dá direito aos estudantes de fazerem uso de drogas dentro da faculdade? Será que a USP declarou independência do resto do país e adotou uma constituição própria onde tudo é permitido? Onde aqueles que são considerados a elite intelectual do país fazem coro para que se pratique a vista grossa para comportamentos não compatíveis com o ambiente escolar? Onde a depredação é justificada pela birrinha de meia dúzia de maloqueiros filhinhos de papai que estudam às custas dos impostos do povo brasileiro e que se acham superiores ao resto da população por estarem estudando numa instituição federal, mesmo que não façam jus a esta regalia?
Vivemos uma crise em nossas universidades, isto é fato, mas dentro de uma instituição federal é ainda mais penoso. Estes mesmos da USP chegaram a comparam a sua “repressão” com aquela sofrida por moradores de morros e comunidades invadidas pelos policiais. Gente que nunca passou perto de um morro, a não ser pra comprar um baseado, acha que é a mesma coisa um policial chegar pedindo para apagar o baseado, como sempre é feito com gente que se sabe ser de família abastada e aquilo que acontece em determinadas comunidades, onde o simples fato de morar ali é visto como sinônimo de ser bandido e correr o risco de levar uma bala na cabeça e acabar sendo encontrado dentro um córrego com o corpo em putrefação alguns dias ou meses depois sem a família ter nem a quem reclamar. Isso porque simplesmente um pretenso policial que estava de mau humor ter achado que este cidadão poderia ser um bandido.
Não, meus queridos boyzinhos da USP, vocês não sabem o que é repressão. Aliás, não sabem nem mesmo o que significa a palavra LIMITE e muito menos a palavra COMPROMETIMENTO. Comprometimento tanto com os seus próprios estudos, com os esforços dos seus pais para colocarem vocês dentro desta universidade que está entre as mais renomadas do país e muito menos comprometimento com o dinheiro dos impostos do povo brasileiro que banca a estadia e os ótimos estudos aos quais vocês têm acesso aí e que muita gente faria o diabo para ter também.

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