Ultimamente a união dos
grupos chamados de “minorias” colocou em pauta a discussão de diversos temas
que até então sistematicamente eram varridos para debaixo do tapete. As redes
sociais e as novas formas de divulgação de informações e trocas de ideias
facilitaram e muito a mobilização desses grupos para reivindicar os seus
direitos, discutirem seus pontos de vista, apoiarem-se mutuamente fazer pressão
social para serem vistos, ouvidos e atendidos.
Alguns grupos já
conseguiram grandes avanços, outros ainda carecem de uma representatividade
mais efetiva para mobilizar maiores camadas da população. Essa capacidade de
aglutinação esbarra em preconceitos existentes entre os grupos minoritários,
que muitas vezes reivindicam direitos para si, mas ainda não reconhece os dos
outros grupos. Vemos muitas vezes negros criticando o racismo e sendo
coniventes com o machismo, mulheres enaltecendo o feminismo e o empoderamento
feminino sem nenhuma sensibilização com as questões indígenas ou dos grupos
LGBTs e por aí vai.
A falta de união entre
os grupos menos favorecidos faz com que cada pequeno grupo lute uma guerra que
é só sua, sem conexão com outras facções que também passam por situações
parecidas. É óbvio que cada grupo possui sua demanda e sua pauta específica,
contudo a falta de diálogo em busca de pontos de convergência acarreta que no
final, nenhum consiga alcançar a contento os seus objetivos e ainda por cima
muitas vezes nessa busca de evidenciar suas necessidades acabem por fazê-lo desqualificando
as do outro grupo, como se fosse um concorrente.
Os benefícios sociais
devem estar disponíveis a todos. E não vai ser aderindo ao jogo do “quem puder
mais, leva” que vamos melhorar a sociedade e torná-la mais justa. Essa
estratégia é justamente um meio com o qual os grupos mais conservadores e que
dominam o poder se utilizam para fazer com que os grupos se enfraqueçam
mutuamente e nenhum consiga integralmente aquilo que necessita.
Isso gera uma espécie
de “hierarquia da desgraça”, onde em vez do apoio mútuo surgem divisões
hierarquizadas sobre quem está mais elevado dentro dessa gama de situações
desfavoráveis. Afirmações como “sou mulher, mas pelo menos não sou negra; sou
negro, mas pelo menos não sou viado; sou gay, mas pelo menos não sou índio...”
acabam por ser verbalizadas ou subentendidas nos atos e discursos dos
integrantes de minorias, gerando dissensos internos e intergrupais, afastando
ainda mais cada um de suas pretensões e gerando dúvidas sobre se o que cada um
quer mesmo é o bem comum ou simplesmente inverter as relações de poder
existentes e fazer com que o seu grupo seja preponderante em vez do outro que
se encontra em vantagem.
Infelizmente e a duras
penas, parece que as minorias vão ter que tomar uma dose extra de tolerância,
diálogo e democracia para que, ao reivindicarem seus direitos, não se tornem
também iguais aos monstros que tanto combatem e nem acabem por implodir o
coração de suas metas em vez de concretizá-las.
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