Não queremos igualdade,
ela nos incomoda. Os discursos a favor da igualdade são feitos sempre por
aqueles que estão por baixo, que detêm menos poder que os outros. Os que se
encontram em alguma posição de destaque ou socialmente superiores aos outros
dificilmente cedem a esse discurso.
As pessoas querem se
diferenciar umas das outras, possuir algo que as afastem da multidão, que as
tornem únicas. O que mais as incomoda é a sensação de se diluir na massa
uniforme e não encontrarem nada em si que as faça se sentirem superiores aos
outros. Por isso a moda da “ostentação” ganha tanta força: as pessoas querem
mostrar que possuem coisas, amigos melhores que os dos outros, que frequentam
os lugares mais desejados, possuem uma vida digna de se inspirar inveja, que
são um monumento de poder rodeado de “recalque” por todos os lados... Pertencem
ao povão, mas abominam qualquer manifestação que as identifiquem ou as
aproximem da plebe.
Nesse sentido podemos
notar como a democracia também é um sistema que não é muito bem visto por
muitos. O fato de pensar que o voto de qualquer um tem o mesmo peso que o seu,
que uma massa qualquer que pense diferente pode ter mais poder de afirmação do
que o seu gera uma sensação de hostilidade desmesurada. Daí surgem as ofensas
alegando que os grupos X, Y ou Z não deveriam ter o direito de votar, que eles
não sabem escolher e por isso deveriam ser privados desse direito e tudo o
mais, partindo-se da premissa que se está certo e de que qualquer um que não
reafirme esta certeza e este ponto de vista deverá ser excluído da tal
democracia.
No fundo o que se
deseja é o privilégio, a regalia, a diferenciação e o distanciamento de tudo
aquilo que possa fazer com que se pareça igual e indistinto dos outros. Nossa concepção
de igualdade ainda precisa ser muito depurada e amplamente amadurecida. E diferentemente
do que se diz por aí, não é uma questão de capitalismo ou comunismo, ateísmo ou
cristianismo ou qualquer outra ideologia. O nosso problema é compreender o que
realmente seja a igualdade e a aceitarmos da forma como ela é, sabendo que as
diferenças são necessárias e inevitáveis, mas que elas não deverão colocar
ninguém em vantagem com relação ao outro, nem mesmo servir de padrão para
hierarquizar os indivíduos. Caso contrário, devemos assumir nosso egoísmo e
parar de querer utilizar discursos contraditórios para apaziguar a nossa
consciência, achando que é possível “ostentar na humildade”.
Muito bem colocado! Claro, específico e simples! Parabéns
ResponderExcluirObrigado!
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