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Autoamarras


Passei vários meses sem escrever, e alguns amigos já começavam a me cobrar por isso. Eu também confesso que já começava a ver este espaço como uma espécie de “obrigação”, pensava talvez que aqueles que sempre buscavam os meus textos poderiam desanimar e deixar de buscar por minhas publicações por conta do meu pretenso “sumiço”. Depois comecei a pensar melhor na questão e me percebi já envolvido um pouco nessa trama de achar que possuía um “compromisso” e um ”nome a zelar”, mesmo com este blog tão modesto como é o meu. Creio que boa parte das coisas que fazemos na vida também possuem esta inspiração: começamos sem saber direito no que vai dar, depois acabamos nos envolvendo com aquilo e logo achamos que devemos, de qualquer forma, manter aquela imagem que foi criada, ou que nós mesmos criamos, daquilo que somos ou fazemos. E o que era prazer, projeto ou algo assim passa a adquirir características de obrigação, compromisso, dever... E passamos a fazer as coisas não mais pela motivação que os inspirou, mas pelo sentimento de que não podemos parar, pois corremos o risco de comprometer um suposto contrato com um alguém imaginário a quem devemos algum tipo de satisfação. Com isso, depois que esfriamos a cabeça e deixamos essa neurose se esvair, percebemos o quanto muitas vezes criamos nossas próprias amarras e as impomos a nós mesmos. Depois, lhes damos o status de algo superior, externo, que de alguma forma veio até nós e nos infligiu seu poder e nos condicionou de maneira que não podemos lhe opor resistência. Aí então bendizemos ou amaldiçoamos a um outro ou a algo por aquilo que nós mesmos criamos e com o qual nos aprisionamos.

Comentários

  1. Ainda bem que diante de todas as amarras e prisões a qual nos colocamos,sempre existe um grito de liberdade que ecoa dentro de nós,e bem sabemos que para toda entrada sempre existe uma saída.Entramos em um jogo satisfatório onde cada um de nós buscamos nossos próprios interesses,seja por prazer ou pelo simples fato de achar que não tem nada a perder.Quando na verdade o que estamos deixando de lado é o nosso caráter e a essência de sermos nós mesmo.A grande receita para tudo isso,é uma grande pitada de amor próprio.

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